O FÃ
por André e Marcos Luiz
“Essa é a história de uma grande estrela e um fã que foi longe demais. O ato final é assassinato.”
Todos nós amamos nosso ídolo, às vezes com bastante intensidade. Queremos que ele tenha sucesso e temos o sonho de conhecê-lo. Porém temos consciência de saber: somos um em meio a uma multidão gostando do mesmo artista, seja ele ator, diretor, etc. Existem aqueles que se acham únicos e amam seus ídolos de uma maneira errada. Concentram neles um amor gigantesco, causando a perda do amor próprio e o início de uma obsessão. Trata-se de um fato verídico que os artistas enfrentam em sua rotina e serviu como pretexto pra Hollywood criar muitos filmes de suspense com loucos de arrepiar. |
O filme começa com uma carta escrita por um fã para Sally Ross (Lauren Bacall), glamorosa e consagrada atriz de cinema e teatro, preparando-se para estrear um importante musical na Broadway. Além de ensaiar dia após dia, ela precisa também fazer uma retrospectiva sobre sua vida particular, pois chegara a uma encruzilhada existencial - Sally mantém uma amizade com seu ex-marido Jake Berman (James Garner) por quem ainda é apaixonada. No meio de tudo isto, ela acaba passando por uma experiência terrível: o seu fã psicopata chamado Douglas Breen (Michael Biehn) está tentando matá-la... A primeira carta parecia inofensiva...
"Querida Sra. Ross: Eu sou o seu maior fã... porque, contrario aos outros, não quero nada da senhora. Para mim a única coisa importante é sua felicidade. Tenho pôsteres, programas e um armário cheio de suas fotografias desde o início de sua magnífica carreira. Qualquer filme no qual a Senhora aparece transforma-se em um verdadeiro clássico. Não importa a hora em que seus filmes são exibidos na televisão, ficar acordado até tarde da noite para mim é um prazer. Comprei um lindo novo porta-retrato para uma de suas mais famosas fotos... aquela em que a Senhora canta enquanto o Presidente Truman toca piano. Sinto desprezo pelas pessoas desesperadas e patéticas que perturbam a sua privacidade. Sua felicidade e paz de espírito precisam ser preservadas. Conheço todos os homens famosos de sua vida, porém eu lhe adoro como jamais alguém lhe adorou... ou adorará. Obrigado pelo tanto que a Senhora tem me inspirado. A Senhora é a maior estrela de todas. Seu amigo, Douglas Breen.”
“Ps. Poderia urgente enviar sua última foto, assim que possível?”
...mas, sua assistente Belle Goldman (Maureen Stapleton) nunca entrega as cartas a Sally e cada vez elas ficam mais assustadoras – passam a ter como inicio “Dear Bitch” e ameaças a Belle.
Douglas começa a atacar as pessoas mais próximas a Sally, abrindo o caminho para ele viver esse amor obsessivo. A primeira é Belle, e a lista aumenta a cada minuto do filme.
Para proteger a grande estrela entra em cena o inspetor Raphael Andrews (Hector Elizondo). Ele não consegue impedir os crimes que vão se tornando cada vez mais graves, até o chocante confronto entre a bela atriz e seu fã no fim do filme ao final de sua estréia na Broadway, única cena onde se encontram - um show à parte, performances incríveis num duelo apavorante.
O filme prometia ser um grande sucesso, mas não foi isso que os estúdios da Paramount obtiveram. O filme fracassou nas bilheterias e não agradou aos críticos. Hoje em dia ele sobrevive apenas como um “Thriller nostálgico”.
Muitos dirão aquele famoso comentário clichê: O livro é bem melhor! Afirmação errada, pois são veículos completamente diferentes e qualquer comparação entre ambos é uma covardia, para não dizer coisa pior. Um exemplo: um livro de 400 páginas não se torna um filme de 90 minutos a não ser que seja adaptado. Há péssimas adaptações (James Ellroy - DÁLIA NEGRA 2006, de Brian de Palma), porém existem ótimas (Stephen King - O ILUMINADO 1980, de Stanley Kubrick).
No livro THE FAN, a estrela e seu fã terminam mortos (ele mata Sally e se suicida), ninguém pode exigir este desfecho no cinema, trata-se de outra linguagem e o público deseja a vitória da estrela, afinal eles fazem a bilheteria e sempre têm a razão.
O filme foi desenvolvido para ser um slasher, mesclado com um suspense Hithcockiano e não agradou ninguém. Era slasher demais para os fãs de Hitchcock e Hitchcock demais para fãs de slasher. Números musicais em slasher? Quem acreditaria nisso! Deu certo um slasher nas pistas de dança com Prom Night 1980, porque não daria certo em musicais?
O 1º problema foi na pré-produção. O projeto era para ser estrelado por Elizabeth Taylor e dirigido pelo bizarro Jeff Lieberman, realizador do nojento Squirm de 1976 e O Ajudante de Satã, de 2006. O projeto foi deixado de lado quando ambos deixaram a produção. Foi um ponto positivo ou negativo? Talvez Lieberman não deixasse escapar erros tão bruscos no roteiro que o estreante Edward Bianchi – seu substituto – deixou. Daremos uma colher de chá, era seu 1º filme. Hoje em dia ele assina Ed Bianchi, dirigi somente seriados como BROTHERHOOD, DEADHOOD, LEI E ORDEM, entre outros. No cinema voltou apenas 10 anos após O FÃ, com a fraca comédia FORA DE CONTROLE com Cindy Lauper em 1991 e, nesse tempo, especializou-se em comerciais.
Sobre a diva Liz Taylor, sua carreira entrou em declínio na década de 70, então não seria a melhor escolha. Talvez voltasse ao topo com este filme com Lieberman na direção, pois se Miss Taylor fizesse a versão de Bianchi, poderia se afundar mais. Na época a bicampeã do Oscar estava fazendo novelas americanas como General Hospital e All My Children.
No lugar de Elizabeth chamaram a ex-senhora-Humphrey-Bogart, Lauren Bacall. Ela é linda, talentosa e cheia de glamour. O que aconteceu com ela em O Fã? Lauren parece cansada, sem ânimo para atuar e já havia feito músicas de grande sucesso na Broadway como “Woman of the Year", “Cactus Flower” e "Applause!" uma adaptação musical de A MALVADA. Acreditem, quando sua personagem Sally abre a boca, sai de baixo! Esta muito fraca, típica de uma atriz que não sabe cantar. Para piorar o musical é chato e as músicas são ruins. Se fossemos à Broadway para ver este show, me certificaria de ter um tomate em minha mão... Lauren recebeu criticas negativas e voltou ao cinema depois de 7 anos com ENCONTRO MARCADO COM A MORTE, de 1988, um suspense baseado na obra de Agatha Christie.
As músicas são: A REMARKABLE WOMAN e HEARTS, NOT DIAMONDS. A segunda foi indicada ao Framboesa de Ouro de pior canção do ano em 1981. Fica a impressão: apenas por ser Lauren Bacall, os produtores tinham a intenção de mostrar ao público que ela ainda era jovial, bela, a mulher maravilha, tipo um “tributo” pelo que ela representou na era de ouro em Hollywood. Para encurtar, puxa saco (risos).
Segundo problema: James Garner. Ele é um bom ator, carismático e charmoso, mas em O FÃ, Garner está péssimo, sua presença em cada cena faz o filme cair. Seu núcleo é completamente desnecessário e poderia ser retirado do filme.
Terceiro problema, o filme não tem assassinatos. Para que serve os coadjuvantes em slasher? Para morrer! Mas Lauren Bacall não pode ficar sozinha. Ficar sem sua assistente? Inadmissível! Se fosse uma atriz estreante até os pais iriam morrer. Os coadjuvantes parecem desnecessários. A secretária Belle é atacada violentamente na estação do metrô por Douglas utilizando uma lâmina, mas só tem ferimentos no rosto e no final do filme desaparecem como passe de mágica. Pela maneira com que ela ficou hospitalizada, era para serem marcas eternas, mas ela é amiga de Lauren Bacall, nem cicatrizes ficaram.
Douglas deveria ver Jake, ex-marido de Sally como um rival, afinal ele esta sempre presente em qualquer circunstância da vida dela, sempre ao lado de uma mulher mais jovem e jogando charme. Detalhe: Douglas não o persegue nenhuma vez. No lugar dele, persegue um dos dançarinos da peça chamado David e deve ser gay, pois topa ser companhia de Sally em uma festa para enciumar Jake. David não é uma ameaça e apenas porque deu um beijinho no rosto de Sally, quando vai nadar, eis que surge Douglas em uma cena muito bem feita, mergulhando no fundo da piscina e por baixo quando David está nadando fere seu peito com a lâmina, mas a peça de Lauren não poderia ficar sem seu par, nada acontece com ele e passa bem no hospital. Pelo tanto de sangue que jorra na piscina, no mínimo internado com ferimentos graves.
Os poucos assassinatos contidos no filme pertencem às pontas, pelos quais você não sente uma grande revolta ao vê-los mortos, não conhecemos nenhum dos personagens.
* Tem a empregada: Douglas passa a lâmina em seus seios e ela cai morta. Isso mata? Ahh....um momento...é uma ponta, se Douglas olhasse pra ela estaria morta (risos).
* Tem os dois empregados da Broadway: após a peça terá uma festa para Sally. Como em todo filme a estrela sempre fica sozinha no teatro para se arrumar, o zelador e a camareira tinham que morrer, Douglas quer ficar sozinho com Sally.
* Deixei a melhor para o final: devido ao medo, Sally se refugia em sua casa de praia. Douglas vai até uma boate gls, escolhe um moço bonito aparentemente parecido com ele e o leva para algum beco. Durante um sexo oral, Douglas abre a garganta do cara e atira fogo no corpo, para a policia pensar que ele está morto e Sally salva. Esta cena é digna de aplausos e marca o filme.
Se O FÃ obedecesse à linha dos slasher, a secretária, o inspetor e sua assistente, o dançarino e o marido, eram para ser vitimas, eles existem pra isso, o aumento de mortes no filme - além disso, Jake é o personagem mais inútil da história.
Quarto problema. Ela é uma atriz famosa e protegida por policiais. Proteção em vão, porque Douglas entra com facilidade no apartamento de Sally.
Quinto problema: Viver novamente um romance com seu ex-marido Jake já era desnecessário, outro seria no mínimo impossível. Enquanto o inspetor Raphael protege Sally começa a rolar um flerte. Você entende: o ex vai morrer e o inspetor vai tomar o seu lugar. Eles chegam a cozinhar juntos, naquela típica cena romântica fazem ovos mexidos e parecem que estão comendo caviar. Um romance estava começando, mas logo o filme toma outro caminho. Quando todos pensam que Douglas está morto e a peça estreia, Sally já reatou com seu ex-marido e não tem uma cena do inspetor entendendo que Sally ainda ama Jake. Ficou sem nexo, então porque colocar isso na história? Os personagens agem como se nada tivesse acontecido.
Ficamos na duvida, qual era a intenção de Edward Bianchi com este filme? Acreditem se quiser, O FÃ tem pontos positivos também. Nós gostamos deste filme, como já vimos muitas vezes, achar os erros era uma questão de tempo e agora vamos mostrar que vale a pena à locação.
Lauren Bacall sem cantar (risos) está ótima e Maureen perfeita. A química entre as duas é sensacional, os diálogos funcionam, fica nítida a amizade verdadeira existente entre elas, nem parece uma encenação e sim uma câmera escondida no apartamento de uma atriz famosa. A presença de Hector Elizondo é sempre um atrativo, basta lembrar-se de UMA LINDA MULHER e o Maestro em FÉRIAS DO BARULHO.
A trilha sonora é fantástica. A abertura parece um encontro entre John Willians em “Tubarão” com Bernard Herrmann em “Psicose” e, no final, quando tudo acaba, a música que simboliza a paz no mundo artístico sem a ameaça de Douglas é incrível. Donaggio fez uma obra de arte.
Os créditos iniciais já vendem o filme. Douglas escrevendo a 1ª carta a Sally em sua maquina de escrever, closes em sua boca, a câmera estudando o cenário sombrio onde ele se encontra (a lâmina utilizada nos crimes, uma faca, porta-retratos de Sally), com a trilha de Donaggio, você se torna a testemunha da cena e o público descobre o fanatismo sem que o personagem precise falar.
O clima de tensão é muito bem realizado: o fã observando de longe, perseguindo suas vitimas visto pela câmera em movimento, a fotografia (Nova York, sempre um cenário perfeito), a decadência de Douglas, de fã obsessivo para fã psicopata e a montagem - Uma cena e vários ângulos, como no ataque a Belle e a David.
Se existe uma presença capaz de fazer o telespectador esquecer todos os problemas do filme, é sem duvida a atuação de Michael Biehn como Douglas, o fã. Biehn rouba todas as cenas do filme, sua interpretação é brilhante. Na época o fato de ser um ator estreante foi ótimo para dar mais realidade à obsessão do personagem. Suas atitudes para provar seu amor por Sally são fantásticas - se fosse outro ator ficaria piegas. O medo juntamente com a sensação de prazer ao ferir alguém, pois acredita que Sally lhe daré razão, afinal era um intruso atrapalhando seu romance.
Quando Douglas perde o emprego, ele recebe a visita de sua irmã, mandado pelos pais. Ela acaba interrompendo um jantar romântico, onde ele imagina Sally sentada a sua frente, inclusive tem um prato pra ela na mesa. A irmã acaba sendo expulsa e fica indignada quando Douglas diz a ela que esta jantando com uma estrela de cinema. Uma cena magnífica.
Fica um mistério: depressão, solidão, falta de amor dos pais, porque Douglas não consegue medir as consequências dos atos? Seu olhar deixa dúvida nas pessoas, às vezes um garoto perdido, apaixonado e outras vezes um psicopata.
Como tinha pouca experiência em atuar, na vida real, Biehn ficou também meio obcecado por Lauren, assistindo tudo sobre ela, lendo todos os anúncios sobre a linda atriz. Ficou envolvido por Lauren a ponto de quase ficar maluco na vida real, segundo as próprias palavras de Biehn. Tudo acabou ao término das filmagens quando Lauren conversou com ele, colocando-o de volta à realidade, um quase rapazote perto dela, explicando que ambos eram profissionais, amigos de profissão e Biehn superou sua paixão. Por isso que Douglas Breen é tão real.
Beihn recebeu elogios da crítica e 3 anos depois atuou no grande papel de sua vida, foi Kyle Reese, o grande amor de Sarah Connor (Linda Hamilton), pai de Jonh Connor em O Exterminador do Futuro, de James Cameron em 1984 - grande responsabilidade.
Existem outros filmes – bem melhores – sobre fãs obsessivos, como o sensacional LOUCA OBSESSÃO (Misery), de 1990, baseado na obra de Stephen King, onde Kathy Bates (vencedora do Globo de Ouro e Oscar de melhor atriz por este filme) aprisiona seu ídolo (James Cann), o escritor de livros acidentado numa cama em sua casa. Irônico, o filme é co-estrelado por Lauren Bacall.
ESTRANHA OBSESSÃO, de 1996, dirigido por Tony Scott (Top Gun) estrelado por Robert De Niro e Wesley Snipes. Snipes faz um jogador de baseball numa fase ruim e enfrenta as loucuras do seu fã feito por De Niro, que acredita ser o único capaz de ajudá-lo, pois quer ver seu time vencer a qualquer preço. O filme foi um fracasso total nas bilheterias.
Para encerrar, o melhor de todos: A MALVADA (All About Eve), de 1950, dirigido pelo mega mestre Joseph L. Mankiewicz (De Repente no Ultimo Verão). Eve (Anne Baxter) idolatra a dama dos palcos Margo (a deslumbrante Bette Davis). Ela fará de tudo para se tornar intima de sua fã, até conseguir roubar suas peças e o seu lugar. Vencedor de 6 Oscars, inclusive melhor filme e recordista de indicações (14 indicações).
Ainda há muitos filmes sobre este assunto e O FÃ - OBSESSÃO CEGA é um bom divertimento. O filme tem uma lista de admiradores e outra cheia de pessoas que o odeia. Não foi lançado em DVD no Brasil, mas numa locadora com grande acervo em VHS você é capaz de encontrá-lo e comprá-lo como nós dois fizemos. Utilizando o encerramento de Douglas nas cartas a Sally, usaremos o mesmo estilo...
...do amigo de vocês André e Marcos Luiz
Bom, espero que tenham gostado deste breve resumo comentado dos irmãos André e Marcos Luiz, diretamente do site BOCA DO INFERNO, ao qual sou fã de carteirinha! O melhor site de terror de todos os tmepos, mas, infelizmente, precisa de doações e fazer vendas de seus produtos, senão, o site sairá do ar no próximo ano X.x...
YATTA!
bye-Q!
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