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ROCKY HORROR PICTURE SHOW - Cinema ou Teatro?

O luxo do Cine Trash
Cultuado no teatro e um fracasso no cinema, The Rocky Horror Show
é um dos mais esquisitos símbolos da cultura pop

No último dia 24 de julho, um bando de malucos vestidos e pintados como alienígenas e transexuais se reuniram em Nova York para um encontro que se repete religiosamente há quase trinta anos. Não fosse pelo detalhe dos “transexuais”, o leitor poderia pensar que estávamos falando dos trekkers, os fãs da série Jornada Nas Estrelas (Star Trek), mas ao invés de seguidores do orelhudo Dr. Spock, os malucos da vez são discípulos de uma figura ainda mais bizonha: o igualmente “doutor” Frank-N-Furter, personagem central da peça The Rocky Horror Show, adaptada para o cinema em 1975 como The Rocky Horror Picture Show. Auxiliado pelos seus conterrâneos de galáxia Riff Raff e Magenta, o dr. Frank-N-Furter cria, à imagem e semelhança de algum Schwarzenegger qualquer, o seu “Frankenstein” batizado de Rocky – só que sem parafusos no pescoço.

O que pode parecer uma gaiola das loucas é na verdade um dos mais esquisitos e duradouros fenômenos da cultura pop. Até hoje, The Rocky Horror Show continua em cartaz no circuito de teatro alternativo norte-americano e europeu, sempre juntando um bando de malucos pintados na platéia. Era assim desde o início da década de 70, quando a peça virou febre na Inglaterra. “Carole King aparecia pintada nos espetáculos, Keith Moon costumava vir com garrafas de champagne na platéia e Elvis Presley pediu para conhecer os atores”, lembra Richard O’Brien, músico e ator responsável pela “concepção” do Rocky Horror Show.

Naquela época, O’Brien tinha tempo de sobra pra pensar bobagem. Desempregado após fazer o papel de Herodes na ópera-rock Jesus Cristo Superstar, em 1972, ele começou a correr os estúdios de Londres atrás de um papel qualquer, ao mesmo tempo em que acumulava uma série de canções que nunca tinha gravado. Quando idealizou o projeto de um musical bizarro, inspirado em Hair, Jesus Cristo Superstar e em velhos filmes de terror B, como A Pequena Loja dos Horrores (produção dos anos 50 refilmada em 1986 com Rick Moranis e Steve Martin no elenco), O’Brien saiu passando o pires entre todo mundo que conhecia até conseguir o pequeno orçamento que permitiu a produção de The Rocky Horror Show – que estreou no Royal Court de Londres em 1973. Com uma série de passagens tão hilárias quanto medonhas, a peça virou cult rapidinho.

A história é a seguinte: um casal caretão que recém noivou viaja por uma estrada à noite para se encontrar com um amigo. No meio de uma tempestade, o pneu do carro fura e nem o estepe dá jeito. Eles vão retornando pela estrada atrás de um telefone e encontram um castelo onde casais de motoqueiros se encontram para uma festa. Chegando lá, acabam se tornando os convidados de honra do Dr. Frank-N-Furter, se envolvem com os demais criados e o Frankenstein chamado Rocky. Chavão dos chavões, The Rocky Horror Show era a cara de seu tempo. Misturava a grandiosidade musical das óperas-rock, abusava do visual glam e andrógino de David Bowie/Roxy Music e provocava risos a partir de situações grotescas, a começar pela sua marca registrada: os lábios que servem de sofá para o Dr. Frank-N-Furter. Era uma caricatura sebosa da década de 70.

Depois de algumas temporadas, Richard O’Brien, o produtor Lou Adler e o diretor australiano Jim Sherman começaram a pensar na produção do longa-metragem inspirado na peça. Batizado de The Rocky Horror Picture Show, o projeto incluiu jovens atores norte-americanos (como os comediantes do Saturday Night Live Barry Bostwick e Susan Sarandon, no papel do casal caretão) ao pessoal do elenco original, como Tim Curry, o futuro metaleiro farofa Meat Loaf Aday, e o próprio Richard O’Brien. Com o sucesso da peça, os atores tinham certeza que o filme seria um novo A Noviça Rebelde e que estouraria as bilheterias logo de cara. A parte técnica não saiu lá essas coisas (a bem da verdade, era um orçamento bem vagabundo para um roteiro igualmente fuleiro) e o custo final de US$ 1,25 milhão acabou sendo um prejuízo em virtude do faturamento próximo do zero. “As pessoas não estavam preparadas pra ver aquilo, elas saíam no meio e se sentiam ofendidas”, opina Lou Adler. Os diretores da Fox acabaram engavetando todos os projetos de divulgação do filme depois das primeiras exibições.

Decepcionados com o fracasso, atores e produtores deixaram correr o barco e continuar promovendo a peça, só que sem o estímulo de outras épocas. “Só quando eu assisti ao filme em Londres, em 1977, é que eu percebi que, de alguma forma, nós tínhamos acertado. O sucesso de The Rocky Horror Picture Show partiu de seu fracasso inicial”, atestou o cenógrafo Brian Thomson décadas depois. Porém, havia insistentes grupos de fãs que assistiam ao filme várias vezes nas “sessões malditas” à meia-noite e que procuravam os atores para elogiar a versão para o cinema. Foi assim que foi se criando a lenda cult do filme, enquanto músicas-tema como “The Time Warp” e “Hot Patootie” eram tão imitados pelos fãs quanto o twist de Uma Thurman e John Travolta em Pulp Fiction vinte anos depois. Detalhe: a cena da dança em “The Time Warp” foi inspirada em uma seqüência do filme Bande à part, de Jean-Luc Godard, que por sua vez inspirou Tarantino na coreografia de Pulp Fiction e no nome de sua produtora (A Band Apart).

Rocky Horror puxa uma série de referências do cinema, como na caracterização do personagem Riff Raff, vivido por O’Brien. Inspirado no Nosferatu de F.W. Murnau, o mordomo do castelo de Frank-N-Furter é idêntico ao Beetlejuice que Michael Keaton encarnaria depois em Os Fantasmas se Divertem (88). Sem falar no visual explicitamente Marc Bolan adotado por Tim Curry – que hoje em dia está a cara do Pedro Malan – e na narração inspirada nas histórias em quadrinhos. Ou seja, tanto o filme quanto a peça são uma fonte quase inesgotável de nerdice pop. Quem duvidar, pode procurar a edição especial em DVD duplo dos 25 anos de The Rocky Horror Picture Show ou, se tiver grana pra isso, dar uma passada por Nova York no ano que vem pra conhecer um bando de malucos pintados como o Kiss e vestidos como se os New York Dolls fossem alienígenas. Dr. Spock é fichinha.

YATTA!

bye-Q!

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