O conto do vigário digital (Ou como as relações por distância se tornam maquiadas)
O conto do vigário digital (Ou como as relações por distância se tornam maquiadas)
por: Pedro Centurion
O caso que vou relatar agora é um caso que todo mundo já se deparou, é aquele caso comum que vira meme ou mene, se preferir, no Facebook. É aquele tipo de assunto falado em rodas eletrônicas e cochichado em recepções no trabalho, ou quem sabe, se a pessoa tem aquele ponto nodal de virar um adulto reclamão com quinze anos o assunto se passa, mais cedo na vida, nos corredores da escola. Aliás, comentários estes que me lembram o caso das patricinhas da escola que eu tanto achava pentelhas. Podem falar do xampu, das roupinhas bonitinhas e do jeitinho meigo, mas patty é chata pra caramba. Ou, ao menos, era assim que parecia na escola e graças à outra força tivesse continuado assim.
O fato, meus caros colegas, é que não continua. A gente vai “digivoluindo” (primeiro a barriga, depois a calvice, a chatice crônica, as paranoias, as feridas pessoais, etc etc) e nós acabamos por nos render aos encantos dessa maledicência desenfreada, da negatividade e, quem sabe, até mesmo desta infantilidade que as queridas patricinhas e boys tem chamado de círculo de “confiança”. Quer dizer, deixa eu explicar melhor. O círculo de confiança é ele mesmo e os amigos eventuais do sujeito. Claro, todos temos amigos eventuais e mimi e esse samba com chororô e ginga todo mambembe que se chama rodinha de paga-pau. Todo mundo tem: seu chefe, seu rival, seu irmão tinha quando você era criança e adolescente, sua irmã, etc. Você teve essa cagada, mas , claro, era mais digno porque você via eles meia vez por ano, ou ao menos,você via com pouca frequencia, não tinha FB, twitter, Viber e o caralho à quatro e nem o maldito Whatsup (é assim que escreve essa desgraça?).
O dia-a-dia na escola era cinza, tu odiavas estar naquele lugar - ao menos os seus colegas lhe pareciam ariscos e você agia de maneira estranha e antissocial -; ao menos com eles, mas você não era reclamão, você não era “babaca”. Cê era o cara, o escolhido, o diferentinho, o cara que curtia as paradas que ninguém mais curtia. C~e era o nerdão, o “hipster”, a bolacha fora do pacote. Deu pra entender a onda, né? Tu se achava o maioral. Nem importa se vc era paparicado em casa ou mimado. O que importava é que ninguém mais falava com vc à não ser por notas (em alguns casos, talvez) ou pra te zoar. Talvez, vc nem fosse tão esperto, mas tu curtia animê, roque, essas paradas fodas.
Era um bagulho muito foda (louco é pra quem fuma dose do que não deve, aquele haxixe que os boys ou teus colegas de facul te ofereciam a rodo no campus, vai saber). O problema, na verdade, era a fortaleza de solidão. Bater uns papos, sair prum karaokê, ir no picnic, encontrar gente que tu nunca viu. Você começou a socializar, mas, pera, era 2001 pra baixo. O máximo de rede social era aquele tal de Orkut e nada de meme zoando vc, afinal, nem rede social tinha direito. O resto era mandado pro scrap ou se vc quisesse o arcaico bate-papo, o MSN e mesmo o ICQ que não tinha ido direto pro cemitério como defunto da era pré-comunicação banda-larga. O negócio era primitivo. Tu saia e ia correndo pra lugares bem longe, pra ver gente que tu mal conhecia. Tu chegava em casa e amava o que via, ouvia e ficava curtindo. Segunda chegava e você aguentava aquela rotina de marasmo e se tu não fosse CDF a rotina se tornava mais pesada ainda.
O problema, amigão, é que tu passou por isso e vê como a vida dos gafanhotos e libélulas está fácil, daí tu vê que o enquadramento, as categorias e toda aquela cagada que acontecia com boys e pattys não era azedume de filhinho de papai e princesinha. A cagada, a merda, o verme tava engendrado no maldito espírito gregário, e na tal sociabilidade. Você percebe qu contato demais vai estragando tudo e as relações começam a esmorecer de maneira que você vai criando barba e percebe: é eu percebi isso, mas eu amadureci em muita coisa, mas só fui viver essa cagada de grupinho na pele hj em dia e, sinceramente, foi a cosia mais escrota que viveu, afinal, estou mais velho e um pouco mais cético. Não tenho nem mais o tempo de fazer as escrotices dos boys e das pattys, mas a vida segue. Tão dura como sempre. É foda ser “nerd”.
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