Header Ads

O decálogo do bom coqueteler
Dicas para o freqüentador de bocas-livres moderno

Redação do Gritedo do Bugio [N.E.: fanzine avô do Marca Diabo], 6 da tarde. Chega a informação de que uns trouxas estariam distribuindo comida e bebida na inauguração do Centro de Convenções de Florianópolis. Chegamos lá e uns seguranças cuidavam da porta, pedindo os crachás para todos os participantes. Nós não tínhamos, mas como bons coquetelers - especialistas em bocas-livres - conseguimos entrar e enchemos a cara de uísque e esfirras. Isso sim é esporte radical (correr o risco de apanhar de seguranças), não essa viadagem de ficar se jogando de cachoeira cheio de proteção. Para você que quer ter aventuras como essa, formulamos um guia básico com dez dicas para se tornar um bom coqueteler:

I - Informar-se previamente sobre o motivo do coquetel e, quando chegar ao local, ir direto ao centro das atenções. Isso te transforma numa sub-autoridade. Obs.: Você deve fazer uma pergunta inteligente relacionada ao assunto e não um mero comentário sem sentido.

II - Você pode não querer falar com ninguém. Nesse caso, chegue no meio da confusão, coma e beba o máximo que puder, o mais rápido possível, e se mande sem deixar vestígios. Obs.: Bebendo demais você pode se empolgar e resolver ficar mais um pouco, dando o maior vexame e detonando a festa.

III - Nunca seja o primeiro a chegar. Nessa situação os responsáveis pela festa podem querer saber quem é você. Obs.: Não chegar tarde demais porque a galera dos itens I, II e III já pode ter acabado com tudo.

IV - Você sempre deve dizer que está no local a trabalho como jornalista. É a melhor saída. Obs.: Não chegar dizendo que você é de determinado jornal perto de outros jornalistas.

V - Caso você não queira ou não possa usar a desculpa do item IV, deve se mostrar o leigo mais interessado no motivo do coquetel. "Estava passando por aqui e como me interesso muito pelo assunto ..." Obs.: Não ficar só comendo e bebendo num canto. Sirva-se à vontade, mas procure estar sempre conversando com algum convidado sobre o assunto. Em resumo: enturme-se.

VI - Use sempre uma máquina fotográfica a tiracolo. Ela vale como um crachá ou um convite. Caso você seja barrado, dê um flashaço na cara do segurança. Quando ele se recuperar você já estará lá dentro comendo e bebendo. Obs.: Não fique com a máquina parada, bata algumas fotos mesmo não tendo filme. Ninguém precisa saber disso.

VII - Vista-se sempre adequadamente. Uma calça jeans e uma camisa pólo por dentro da calça com o cinto combinando com o sapato é a vestimenta mais sensata. No caso de um coquetel oferecido por um artista plástico um traje mais despojado também serve. Obs.: Lembre-se de estar sempre limpo. Um banho não faz mal a ninguém.

VIII - Caso nenhum desses artifícios funcione, fique na porta até conseguir alguém que faça o transporte de comida ou bebida. Obs.: Não fique em um local muito evidente. Neste caso, prefira bebida destilada devido à alta concentração de álcool num pequeno volume. Isso se chama custo-benefício.

IX - A maneira mais simples de se saber o que está acontecendo no mundo dos coquetéis é ter uma fonte que trabalhe na editoria de Cultura de um jornal. Além da possibilidade de conseguir convites essa fonte lhe fornecerá um roteiro para a semana. Obs.: Chegando na boca-livre não dê as costas para a fonte. Ela poderá negar informações na próxima vez.

X - Nunca, mas nunca mesmo, se apresente com seu próprio nome. Você não vai a coquetéis para fazer amigos, mas para encher a cara e a pança. Caso seu nome fictício seja queimado, você está pronto pra outra, com outro nome, é claro. Obs.: Não se apresente para a mesma pessoa com nomes diferentes na mesma noite. Só porque você foi ao banheiro e aliviou a bexiga não significa que não é mais o mesmo.

Em lembre-se da máxima de todo coqueteler: "Macho que é macho não vai a coquetel, vai a boca-livre".

Henrique Takimoto Jasa

Originalmente publicado em agosto de 1998 na edição nº 4 do fanzine Gritedo do Bugio, de saudosa memória.

Nenhum comentário

Tecnologia do Blogger.