Header Ads

Imperdoável

(publicado originalmente em Reg Thorpe - Fornit Some Fornus)

Odeio o termo "cinéfilo". Ao ouvir essa palavra, penso naquelas pessoas que discutem cinema se achando as maiores conhecedoras do mundo no assunto.
Gosto de cinema, mas não gostaria de ser chamado de cinéfilo, assim como não gosto de críticas irritantemente técnicas feitas pelos autoproclamados especialistas.
Uma das coisas que cinéfilos adoram fazer é rankings elegendo os melhores filmes de todos os tempos, os melhores diretores, blá-blá-blá. OK, EU TAMBÉM FAÇO ISSO ÀS VEZES, mas sinceramente,  hoje em dia tenho uma enorme dificuldade em listar meus filmes favoritos em ordem de preferência. Sem dúvida poderia citar, por exemplo, os vinte mais, mas não saberia definir suas colocações, primeiro, segundo, etc.
Mesmo assim, há filmes que não tenho a menor dúvida que estariam entre os primeiros colocados. Um filme que sem dúvida estaria no topo dessa lista é o faroeste Os Imperdoáveis (Unforgiven, 1992), dirigido pelo f*#@¨¨% Clint Eastwood. É importante mencionar que Eastwood tornou-se conhecido nos anos 60 justamente por estrelar os faroestes da "trilogia dos dólares" do clássico diretor Sergio Leone. Por um Punhado de Dólares (1964), Por uns Dólares a Mais (1965) e Três Homens em Conflito (1966) são os três filmes que melhor representam o gênero dos spaghetti western (faroestes americanos dirigidos por italianos e filmados, em sua maioria, na Europa). Nos anos seguintes, Eastwood ainda dirigiu e estrelou O Estranho Sem Nome (1973), mas ficaria mais marcado pelo durão Dirty Harry.
Contudo, em 1992, Clint voltou ao tipo de filme que o consagrou, quase trinta anos antes. Em clara homenagem aos seus dois "mentores" na direção (Sergio Leone e Don Siegel), Eastwood comandou um elenco de primeira qualidade no que se tornaria um clássico moderno.
A história de Os Imperdoáveis se passa no Wyoming, em 1880. No pequeno condado de Big Whiskey, dois vaqueiros de um rancho não muito distante retalham o rosto de uma jovem prostituta. O xerife local, o orgulhoso Little Bill Daggett (Gene Hackman) decide, ao invés de levá-los a julgamento, que ambos paguem uma indenização ao dono do saloom e proprietário da garota cortada. O pagamento de seis potros deixa as demais prostitutas revoltadas, o que as leva a oferecer uma recompensa de mil dólares para o pistoleiro que matar os dois cowboys.
Enquanto isso, no Kansas, o matador aposentado William Munny passa por dificuldades financeiras, ao mesmo tempo em que cuida dos dois filhos pequenos. Em um dia qualquer, um jovem forasteiro auto-intitulado Schofield Kid (Jaimz Woolvett) chega à casa de Munny e o conta sobre a recompensa pelos dois vaqueiros. Kid diz que ouviu de seu tio Pete Sothow que não poderia haver melhor parceiro para matança do que William Munny, que "é frio como a neve". Presenciando a conversa de ambos, notamos que Munny é um tipo de lenda, conhecido pela frieza e crueldade de quando era mais novo. Contudo, diz a Kid que não é mais assim, que a bebida é que o fazia agir daquela maneira. Claudia, sua falecida esposa, o "curou da bebida e da malvadeza". Kid vai embora, mas diz a Munny que, se mudar de idéia, pode alcançá-lo.


Com extremas dificuldades financeiras, Munny resolve ir atrás de Kid. Entretanto, passa antes no rancho de seu antigo parceiro Ned Logan (Morgan Freeman) para perguntar se estaria disposto a se juntar a eles na matança. Sally "Two Trees", a esposa índia de Logan, olha para Munny com extrema desconfiança, devido ao seu passado de comportamento intempestivo e violento. Relutante no início, Ned aceita fazer parte da caça, desde que a recompensa seja dividida em três.
Contudo, o trio não é o único atrás do prêmio. Enquanto fazem a jornada para o Wyoming, o legendário pistoleiro English Bob (Richard Harris) e o seu biógrafo W.W. Beauchamp (Saul Rubinek) chegam a Big Whiskey atrás dos mil dólares, mas Little Bill logo trata de humilhar Bob publicamente para desencorajar futuros pretendentes ao dinheiro.
Quando o trio de pistoleiros chega ao condado, Little Bill aplica uma surra em Munny, por este se recusar a entregar sua arma. Ned e Kid o resgatam e o levam para um lugar seguro, mas não antes de obter informações com as prostitutas a respeito dos dois cowboys foragidos.
O desfecho do filme é tão trágico quanto surpreendente. O roteiro de Os Imperdoáveis também tem, provavelmente, mais profundidade do que qualquer outro filme já produzido no gênero. Um exemplo disso é o fato de que o "imperdoável" do título não se refere, talvez, apenas ao personagem principal, mas sim a quase todos os presentes no filme. Mostra também que alguns erros que cometemos na vida nos assombram pra sempre e que às vezes não é possível mudar nossa própria natureza, por mais que tentemos.
O filme foi indicado a quatro Oscar (!!!): roteiro original, som, fotografia, direção de arte e ator (Clint Eastwood, que perdeu para Al Pacino em Perfume de Mulher). Venceu nas categorias de diretor (Eastwood), ator coadjuvante (Gene Hackman), edição e melhor filme. Foi apenas o terceiro faroeste a vencer como melhor filme, depois de Cimarron e Dança com Lobos.
Os Imperdoáves foi o primeiro faroeste que vi na vida e realmente gostei. Depois, movido pela curiosidade de ver a trilogia dos dólares, acabei vendo também Era Uma Vez no Oeste (1968), também de Sergio Leone e, posteriormente, outro clássico, Sete Homens e Um Destino. Definitivamente, os dois melhores faroestes já produzidos são Três Homens em Conflito e Os Imperdoáveis.
Há muitas outras coisas a serem ditas sobre a profundidade de Os Imperdoáveis (uma delas referente à foto de Ned Logan acima), mas não quero estragar a surpresa de quem ainda não viu. Mesmo assim, adianto uma coisa: a cena final é simplesmente fantástica e remete a tudo o que o filme prega.
Se tiver a oportunidade de assistir Os Imperdoáveis, não perca a chance. É um dos raros casos de filmes chamados clássicos que são realmente bons.

Citação memorável: "Matar um homem é uma coisa infernal. Você tira tudo o que ele tem... e tudo o que teria um dia" (William Munny)

Os Imperdoáveis - Trailer

Nenhum comentário

Tecnologia do Blogger.