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Os Leões de Tsavo

(publicado originalmente em Reg Thorpe - Fornit Some Fornus)


"Essa é a mais famosa aventura real ocorrida na África"

Filmes muito cerebrais às vezes enchem o saco. Filmes um tanto franceses, exageradamente artísticos, teatrais. Você conhece o tipo. Apesar de não parecer e apesar de fazer o curso universitário que eu faço, eu sou um cara que não gosta de muita profundidade. Quer dizer, até gosto, mas tudo tem limite. O equilíbrio entre a profundidade e a falta da mesma é extremamente necessário. Por essa razão, gosto de muitos filmes comerciais, daqueles que não tem a pretensão de vencer festivais, Globos de Ouro, Oscars, etc. Talvez essa predileção venha da minha infância/adolescência e da minha relação com os filmes sessãodatardísticos (dos anos noventa, não esses de hoje).
Uma das produções de que mais gosto é o simples-mas-legal A Sombra e a Escuridão (The Ghost and the Darkness, no original), de 1996. Pouca gente que eu conheço viu e gostou desse filme. A maioria acha um filme mais ou menos. Essas pessoas provavelmente têm razão.
Baseado em fatos reais, a história se passa nos últimos anos do século XIX, no Quênia. O tenente-coronel britânico John Patterson (Val Kilmer), engenheiro, é contratado para construir uma ponte sobre o Rio Tsavo, ligando as duas partes de uma ferrovia. No contexto histórico da época, ingleses, franceses e alemães lutavam pelo domínio do comércio de marfim da região. Patterson deixa sua esposa grávida para trás no intuito de tentar concluir o projeto em cinco meses, a tempo de retornar e presenciar o nascimento do filho.
Patterson chega ao continente africano totalmente fascinado com a simples idéia de estar ali. Diz pra seu assistente em Tsavo: "Eu quis conhecer a África durante minha vida inteira".
Seu entusiasmo quase é quebrado quando um dos supervisores para a construção da ponte, Samuel, lhe fala que, se tudo estiver bem, é um milagre. "Nada dá certo em Tsavo. Aqui é o pior lugar do mundo". O ceticismo de Samuel pode ser justificado pelos constantes conflitos entre os trabalhadores e suas diferenças étnicas, culturais e religiosas.
Apesar de estar ali para chefiar a construção da ponte, o primeiro trabalho de Patterson é livrar os operários de um leão que atacou e feriu um deles. Logo em sua primeira noite ali, o engenheiro resolve o problema matando a fera com um único tiro. Dessa forma, além de devolver a segurança aos trabalhadores, ganha também seu respeito.
Sete semanas depois, a construção da ponte está bem adiantada. O imediato de Patterson, Mahina, se destaca pelo excelente trabalho e adquire a admiração do engenheiro. Até que, uma noite, Mahina é atacado dentro dos dormitórios e arrastado noite adentro. Pela manhã, Patterson encontra seu cadáver mutilado. Na tentativa de proteger seus empregados, Patterson e Samuel ordenam a construção de cercas de espinhos ao redor do acampamento, assim como a criação de um toque de recolher ao cair da noite. Fogueiras ficam acesas de madrugada para manter a fera distante.
Mesmo assim, novas mortes ocorrem.
Algum tempo depois, quando todos estavam com a guarda baixa, o leão atacou durante a luz do dia. Mais pessoas morreram no processo e uma revelação deixou Patterson desconcertado:
Não era um. Eram dois leões os responsáveis pelas mortes.
Na medida em que o número de vítimas ia aumentando, os animais ganharam o status de criaturas sobrenaturais. A Sombra e A Escuridão, era como eram chamados. Alguns acreditavam que se tratavam de espíritos de feiticeiros enviados para impedir que o homem branco dominasse tudo. Outros acreditavam que eram a encarnação do diabo.
Com os trabalhadores fugindo dali, a construção da ponte fica ameaçada. Os empregadores de Patterson contratam o lendário caçador Remington (Michael Douglas, em um personagem criado especialmente para o filme) para a tarefa de livrar Tsavo dos felinos. A partir daí, começa uma batalha de estratégia e dominação do medo, entre homem e fera.
O responsável pela direção de A Sombra e A Escuridão é o jamaicano Stephen Hopkins, que dirigiu também Predador 2. Embora não faça desse filme uma obra-prima, o dirigiu com competência. Talvez as coisas aconteçam rápido demais, mas mesmo isso pode ser uma virtude em uma produção com pouca pegada artística e profundidade.
Um dos aspectos interessantes fica a cargo da trilha sonora de Jerry Goldsmith. Transmite bem o espírito aventureiro do filme e o clima africano. Também na parte "sonora", Bruce Stambler ganhou o Oscar pela edição de som desse filme.

Val Kilmer não é uma lenda entre os atores, mas possui uma regularidade aceitável. Foi uma boa escolha para o papel de Patterson. E Michael Douglas é um excelente ator em um papel digno de um jovem Clint Eastwood, talvez. Não exigiu muito dele.
Ao pesquisar um pouco na net, é possível ver que há certa diferença entre a história que realmente ocorreu e o roteiro do filme, assinado por William Goldman, roteirista também de Butch Cassidy and The Sundance Kid (!!!) e Louca Obsessão (neste caso, uma adaptação de uma história de Stephen King). Além da criação do personagem de Douglas especialmente para o filme, há certa dúvida quanto ao número de mortes causadas pelos leões. Em seu livro publicado em 1907, o John Patterson original diz terem sido cerca de 135 os mortos. Contudo, esse pode ter sido um exagero por parte dele, já que talvez tivesse a intenção de supervalorizar seu feito. A esse respeito, algumas pesquisas recentes feitas diretamente no material coletado nos dois leões (hoje em exposição em um museu em Chicago), que levava em consideração algumas substâncias encontradas em seus pêlos,"provam" que um dos leões poderia ter devorado cerca de dez vítimas humanas e o outro, vinte e quatro.
Mesmo assim, em um outro estudo feito em 2001 diz que um número de vítimas próximo a 100 era possível.

A Sombra e A Escuridão - trailer


Foto do que dizem ser Patterson e o primeiro dos leões mortos

Os dois leões expostos no museu de Chicago
 

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