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Quarto do mal


(publicado originalmente em Reg Thorpe - Fornit Some Fornus)
Um dos meus escritores favoritos, Stephen King já teve dezenas de seus trabalhos adaptados para filmes, minisséries e curtas para a televisão. Só para citar alguns, Carrie (1976), O Iluminado (1980), Cujo (1983), Christine (1983), Colheita Maldita (1984), Olhos de Gato (1985) e Bala de Prata (1985) foram alguns filmes baseados nas histórias do autor. Algumas dessas adaptações de King ficaram horrorosas, caso de Colheita Maldita. Outras entraram para a história do cinema, como Conta Comigo (1986), Louca Obsessão (1990), Um Sonho de Liberdade (1994) e À Espera de Um Milagre (1999).
É possível que a maioria dessas transposições tenha ficado em um meio termo, nem boas e nem ruins. Nesses casos, posso citar Cemitério Maldito (1989) e A Maldição (1996).
Apesar de ter gostado bastante de 1408 (2007), adaptação de seu conto publicado na coletânea Quatro Estações (que eu não encontro pra comprar em lugar nenhum, GRRRRR!), não sei em qual grupo dos filmes citados acima ele entraria. Quer dizer, não fez (e nem fará) história como Um Sonho de Liberdade ou À Espera de Um Milagre, mas teve um trabalho razoavelmente competente dos seus produtores. OK, ainda não li a história original e sei que é possível que, quando fizer isso, minha opinião sobre o filme mude. Algo parecido aconteceu recentemente. Eu, que sempre tive certa adoração pelo filme O Iluminado, mudei completamente minha opinião depois que li o livro original. Hoje, não chego a "não gostar" do filme, mas cheguei à conclusão de que até mesmo o filme Carrie é uma adaptação mais bem feita do que O Iluminado, no que diz respeito a fidelidade à história original. Pra dizer a verdade, só acho que o diferencial em O Iluminado seja a atuação de Jack Nicholson.
Mas falemos de 1408, tema deste post. Embora não seja um filme para entrar pra história do cinema, foi produzido com razoável competência. Na direção, o sueco Mikael Håfström não cometeu muitos deslizes visíveis.
Um dos aspectos interessantes de 1408 é o fato de Stephen King revisitar o hábito de contar histórias sobre coisas inanimadas-assombradas. Em Pet Sematary, por exemplo, o vilão é um velho cemitério indígena. Em O Iluminado, é um luxuoso hotel isolado nas montanhas. Até mesmo um carro já foi usado como monstro pelo escritor. Dessa vez, o responsável por levar terror ao protagonista é um quarto de hotel no meio de Nova York.
Outra coisa "não nova" presente em 1408 é a profissão de um personagem principal das histórias de Stephen King. Assim como no conto A Balada do Projétil Flexível (história de onde saiu o título desse blog) e nas obras A Hora do Vampiro e O Iluminado, o protagonista ganha a vida escrevendo livros. No caso de 1408, ele se chama Mike Enslin.
Mike tem como tema de suas obras a desmistificação do sobrenatural. Escreve sobre hotéis, cemitérios e outros lugares que sejam supostamente mal-assombrados, sempre com uma visão cética, sempre questionando a veracidade dos supostos fantasmas presentes ali. No decorrer do filme, esse ceticismo de Enslin pode ser explicado pelo fato de, cerca de um ano antes, o escritor ter perdido sua filha pequena, vítima de câncer. Esse comportamento de Mike pode ser interpretado por quem assiste como um mecanismo de auto-defesa.
O ponto de partida da história acontece quando Enslin recebe um cartão postal com a foto do Dolphin Hotel, em Nova York. No verso do cartão, há a frase escrita à mão: "Não entre no 1408". Mike logo estabelece a conexão do número do quarto com o 13 (1+4+08=13) e não demonstra estar impressionado. Entretanto, sua curiosidade fica aguçada quando tenta reservar o quarto por telefone e, mesmo insistindo, ouve a recusa do hotel. Algum tempo depois, obtém a informação de que, se um hotel se recusar a lhe alugar um quarto que esteja disponível, pode processá-lo.
Quando chega ao Dolphin, é recepcionado pelo gerente Gerald Olin. Olin tenta dissuadir Enslin a ficar no 1408 chegando até mesmo a chantageá-lo algumas vezes. Também lhe mostra um livro de recortes com informações sobre as muitas mortes naquele quarto através dos anos. Lhe conta que uma faxineira furou os próprios olhos com uma tesoura ao fazer a limpeza do local. Mike, ao dizer que não vai desistir de passar uma noite naquele quarto, ouve do gerente: "Ao te dizer pra não ficar naquele quarto, não estou preocupado com o seu bem-estar ou com o lucro do hotel. Sinceramente, só não quero ter que limpar a sujeira!"
Obviamente Enslin consegue entrar no quarto. Assim como deve ter feito muitas vezes antes, leva seu gravador e começa a fazer uma análise fria do local.
O que quer que esteja (ou seja) naquele quarto, usa os próprios demônios pessoais dos hóspedes para assombrá-los. Ou torturá-los. Dramas familiares. E essa é mais uma característica das histórias de King. O que pode te dar mais medo do que perder alguém que ama? Como um filho, por exemplo. O quanto pode doer perder essa pessoa por uma segunda vez?
O filme alterna entre esse terror psicológico e extremamente pessoal (uma pessoa com filhos pequenos pode ficar impressionada) e aqueles momentos-clichê de "susto+som alto" tão presentes em filmes de assassinos seriais, por exemplo. No aspecto técnico, peca em algumas cenas com efeitos especiais.
John Cusack talvez não seja o ator mais brilhante de Hollywood. Na verdade, vi pouca coisa com o cara, então não posso opinar muito sobre sua competência. Mesmo assim, sua interpretação de Mike Enslin parece ser adequada para o personagem. Samuel L. Jackson está bem, mas aparece bem pouco no filme, diferente do que sugere a capa do DVD.
Ah, sem estragar a surpresa: o final é típico de Stephen King.

1408 - Trailer


Como tentei dizer no texto deste post, 1408 não está no topo dos filmes baseados nas histórias de King. Sequer deve figurar nas listas de melhores filmes de terror de todos os tempos. Mas é um bom filme. Afeta diferentes pessoas de diferentes formas e isso é um aspecto extremamente interessante em uma produção do gênero.
Recomendo.

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