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Dia 1 - Diário do Tripulante 425149


OBS: Para outras postagens acessem: http://universodegigantes.blogspot.com

Maio, 3 de 2012 em proximidade a Puerto Amador, 1h45 da manhã. Diário do tripulante 425149, Carracidius - uma mistura de Carracedo e algum quê de Guerra nas Estrelas - reportado ao seu posto de Buffet Steward desde 27 de Abril de 2012 em Fort Lauderdale, condado de Broward, Florida.

Somos parte da tripulação do Island Princess - um navio de médio porte com velocidades entre 20 à 60 nós (26km à 78km) pelo qual percorremos de Aft à Forward (parte traseira à frontal) em menos de um minuto - e como somos! Estamos em meio de grupos de sérvios, flipinos, peruanos, mexicanos, italianos, ucranianos e chilenos, só pelo que me lembro.

Como nos velhos filmes americanos que costumam rrelatar a vida na marinha - por exemplo, Anapolis - nosso regime é árduo. Ao menos para um assisrtente de buffet como eu trabalhamos até onze horas em dias normais sem sentar uma vez em serviço a não ser em pausa de uma hora às 2h30 PM e meia às 8h30 PM
Nosso nomes tornam-se números para o grande escalão do navio, embora não tenhamos sido tratados por ele - somente em casos de emergências onde devamos ligar para o Bridge (Ponte) e reportar algo:

- Alô, aqui é o tripulante 425149 e encontrei fumaça perto da cabine 2464, deque 2 - isso seria eu reportando uma ameaça de incêndio aos responsáveis: temos que ser simples e diretos.

Trabalhar em cruzeiro é poder conhecer pessoas novas, porém não tão distantes fora daqui, como o caso do Head Waiter (Chefe dos Garçons), Lopes:

- Você é novo aqui? Adivinha de onde sou? Sou seu irmão.

- Paraguai, Uruguai, Argentina?

- Eles não são seus irmãos: Portugal! - Foi assim que conheci o primeiro lusitano à bordo, pensando que o "parentesco" fosse devido a alguma proximidade geográfica entre algum país da América do Sul e o Brasil.

No mesmo dia conheci a Alina Antonelli, brasileira, natural de São Paulo, mas que atualmente mora em Curitiba, Paraná e se formou na área de comunicação - como eu, jornalista -, mas em publicidade - como diriam as piadinhas facebookianas nessas horas: "Não tá fácil pra ninguém!". Em resumo: é fácil se sentir em território tupiniquim quando se quer.

Verdade seja dita, o grupo em que mais convivo é o dos sérvios. Ah! Os sérvios. Na minha próxima vida quero ser um deles, pois ou são bonitos demais ou feios como um cão. Mas o estilo de beleza é o sonho de toda brasileira: olhos claros - normalmente azuis - loiros, todos em boa forma e que se cantassem se encaixariam numa boy band do tipo Back Street Boys. Meus colegas são Sasa (lê-se Sacha) Stankovic, Nemanja, Vosjislav, Goran, Boban, Branko e por aí vai. Droila e push kuratz foram as primeiras palavras que aprendi em sérvio, não que a escrita esteja correta, pois o alfabeto sérvio é diferente do latim, mas a pronuncia é semelhante à isso. Uma coisa que não entendo sobre eles é: como conseguem beber tanto todo dia depois do trabalho? Na minha primeira noite pós-expediente bebi uma garrafa de Budweiser que, se não senti nada em relação ao movimento do navio desde o primeiro dia, refletiu na minha cabeça todo o balanço do mar.

Para um tripulante de primeira viagem a organização de trabalho pode parecer um pouco confusa no início, até que notamos que, embora  dentro do nosso cargo - somos pau para toda obra. De início às 11:30 AM até às 2h30 PM no deque 14, foirward, no buffet Horizon Court é onde nos reportamos para o trabalho. No meu caso o Head Waiter Fernando, também de Portugal que para minha má sorte sempre me encaminha à station 3 (estação 3) onde sempre se encontra o garçon filipino que não para de pegar no meu pé, Jeremio. "Oh! You're lazy, ah!?", "Don`t do like this, do like that!" - "Oh! Você é preguiçoso, ah!?", "Não faça assim, faça assim!" - diz ele, já uma pessoa que não aparenta ser muito nova e que faz menos do que eu, aparentemente, além de esconder comida da boa - dos passageiros - dentro do armário da estação e comer escondido - espertinho!

Mas meu superior em prática é o senhor Hubert Mainer Nunez, um vizinho chileno que aparente ter uns 57 anos de idade, já divorciado e tem uma filha de 14 anos, Além do que foi ele quem me pagou a cerveja no meu primeiro dia no Crew Bar - Bar dos Tripulante - onde conheci o mexicano Hector, mais conhecido como Elvis pelo cabelo topetudo.

Trabalhar nessa função, para um jornalista é gratificante, pois estamos em contato com passageiros de toda a parte do mundo e quando temos tempo podemos puxar assunto. Uma das minhas primeiras gorgetas foi uma nota de 5,00 CAD (dólares canadenses) e um dólar americano vindos de um casal de Vancouver Island , Canadá  e de uma família de chineses - cuja velhinha colocava a nota na bandeja com um sorriso maroto - respectivamente. Dias após aquela noite descobri que o casal da primeira gorgeta eram John e Dorothy - cuja mulher tinha o mesmo nome da personagem principal de O Mágico de Oz (nome que, pelo excesso de fadiga só pude me lembrar horas atrás) - e pelo qual fui comparado a Charles Chaplin:

- Você parece o Chaplin, o ator.

- Ah! É? Mas eu fiz a barba.

- Calma cara, não estou dizendo que você está com barba por fazer - de forma engraçada e esquisita assim transcorreu o diálogo da comparação feita por John. O sistema por aqui, como disse anteriormente, é duro e não me lembro quantas vezes ao chegar no meu posto me mandaram descer e fazer a barba, pois estava curta apenas para mim ou mal feita.

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