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[CRÍTICA] Últimos Dias no Deserto - A releitura do lado humano de Jesus



Últimos Dias no Deserto, como o nome deixa a sugerir, conta os últimos dias de Jesus no deserto. A princípio parece mais um filme gospel qualquer, mas na verdade é mais uma dessas releituras que andam surgindo. Livremente inspirado na passagem bíblica, onde Jesus anda pelo deserto em jejum sendo tentado pelo diabo, o longa literalmente conta apenas isso mesmo, mas cria um adicional na história, fixando um local para a trama: Jesus vai parar numa casa de uma família que vive no meio do deserto, onde cria um laço com aquela família enquanto vive um embate psicológico contra o diabo. Curioso notar que tanto Jesus quanto o diabo são interpretados pelo mesmo ator: Ewan McGregor (Star Wars, Anjos e Demônios, O Impossível, A Bela e a Fera). O filme chega em dvd ao Brasil pela A2 Filmes através do selo Mares Filmes.

Dirigido por Rodrigo Garcia (A Sete Palmos, Passageiros), o longa explora um lado mais humano de Jesus, um conflito interno que o diabo insiste em cutucar. De um lado o diabo planta dúvidas sobre Jesus ser mesmo o filho de Deus, se Deus se importa com sua criação, etc. Do outro, Jesus se questiona sobre o que é ser um salvador, sobre como agir. A divindade não é mostrada no longa, o que pode abrir a duplas interpretações, tanto que Jesus é um homem normal e tudo aquilo é ilusão quanto uma possível prova da divindade através dos questionamentos e da presença do bem e do mal, além da relação pai e filho, onde Jesus sempre está pedindo ajuda a Deus.

Entenda como um filme não-gospel com história cristã. Ora, é uma releitura de uma passagem bíblica, aproveita pouco do conteúdo original, pegando apenas a ideia e o contexto, mostra um lado menos divino e mais humano de Jesus, o ator que faz Jesus também faz o diabo e o longa ainda possui uma pouca praticamente nada dose de nudez. Sua formação já é altamente polêmica mesmo que seu conteúdo não seja de heresia.

Reflexivo e com um visual atraente, além de belas paisagens, o filme possui um ritmo bastante lento e de pouco conteúdo, se focando tanto em mostrar os embates entre Jesus e o diabo quanto a relação de Jesus com aquela família no meio do deserto. O trunfo vai justamente para as cenas de conflito, com diálogos envolventes e interessantes. Destaque para a cena noturna na fogueira. Quanto a parte da família, temos um pai velho preocupado com o filho, uma mãe doente em leito de morte e um filho que se sente preso e quer liberdade. Também rende seus momentos, principalmente por parte do filho.

O filme não indica, mas a trama se passa antes de Jesus iniciar seu ministério. Não que isso influencie naquele momento contado, já que os personagens acrescentados moram afastados e não sabem de nada que acontece na cidade. Para aqueles que não conhecem a passagem bíblica original, o detalha passa batido. Entretanto, a passagem no deserto é localizada apenas pelo título. Vemos os "últimos dias", mais num sentido mais figurado que literal, dando a sensação da perda da noção do tempo em meio ao 'nada'.

Últimos Dias no Deserto é uma obra para ser apreciada com mente aberta e paciência. Não tenta ser fiel aos acontecimentos gerais, mas busca manter certa fidelidade ao conteúdo principal para que não se torne uma ofensa. Se isso foi possível ou não, vai depender de quem assistir. De qualquer forma, o longa dura mais do que devia. Após ficar na mesma até o fim, o que não necessariamente é algo negativo, já que cumpriu sua proposta, insistem em prosseguir em vez de encerrar no momento certo. Não tira o mérito, mas sofre uma queda.

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