A falta de lógica dos supostos "críticos de Facebook"
Um filme, ao ser visto, é automaticamente julgado pelo nosso gosto pessoal, o que não indica que ele seja realmente bom ou ruim. Numa geração cada vez mais conectada, as pessoas passaram a expressar mais publicamente suas opiniões, surgindo assim os famosos "críticos de Facebook" (ou críticos de internet). O problema é que a lógica usada por muitos não faz o menor sentido.
Ao se comentar um filme com qualquer pessoa, ninguém espera que a pessoa tenha um diploma de cinema nem entenda com profundidade do assunto, mas sim que tenha o mínimo de noção do que está falando. Não é isso que acontece. O pior é que alguns críticos profissionais acabam se utilizando de alguns desses argumentos também, mostrando que o problema é a humanidade. Gosto é pessoal, mas é necessário embasamento para reforçar as ideias.
A seguir, destaco alguns comentários que li pela internet ou ouvi pessoalmente;
Batman vs Superman e o problema da seriedade
Na época de Batman vs Superman, em vez de criticarem furos de roteiro (culpa da Warner, já que o Snyder lançou sua versão completa depois e que recomendo muito assistirem caso não tenham visto), algumas pessoas criticaram o filme por ele ser sério demais, sombrio demais. Isso não é motivo para ele ser ruim. Ok, a pessoa pode preferir coisas alegres, mas reclamar de um filme por ele não ser feliz é válido? Antes dissesse que não curtia esse tipo de filme, por isso não gostou. Como se não fosse o suficiente, alguns alegaram que o filme da DC não era igual a Marvel. Ora essa...
Por isso a Marvel dominou o mercado de super-heróis e o povo não aceita nada que não seja "divertido". Liga da Justiça é um claro exemplo desse impacto, com um humor parcialmente bom, parcialmente horroroso. Nessa de "DC não é igual a Marvel", lembram da crítica em certo jornal que considerou Mulher-Maravilha como um filme tão bom que parecia da Marvel? Pois é.
Pior que lembro de gente que reclamou que Os Vingadores 2 era mais sério que o anterior, o que não faz muito sentido visto que Capitão América 2 foi o filme mais sério do Marvel e foi bem recebido. Vai entender... Creio que tenham elementos de roteiro a serem analisados em vez de se resumir a "divertido é bom, sério é ruim", e tudo isso é prova de que esse argumento não faz sentido.
Star Wars e o problema do mais do mesmo e da inovação
Isso lembra o caso de Star Wars. Endeusado exageradamente pelos fãs, a trilogia clássica é considerada a perfeição, sendo que passa bem longe disso. Não querendo dizer que é ruim, pois eu mesmo me considero um grande apreciador desse universo e consumo produtos da franquia, mas é inegável que existem sim problemas. E não são poucos.
Posteriormente tivemos a trilogia prequel, que, de forma geral, tem muito mais problemas. Embora eu goste dos filmes e não consiga ver isso tudo de ruim que veem, sei que existem problemas graves (ah, a maldita areia... rs). É outro estilo. Mas enfim.
Depois de muitos anos a franquia retornou aos cinemas com O Despertar da Força. Deixarei de lado os machos frágeis, que odiaram ver uma mulher protagonista e e um homem negro (ué, mas não tinha personagem assim na clássica também?), já que não fazer sentido é pouco para isso. Enfim. Uma das críticas foi de que o filme não saía da zona de conforto, como se isso realmente fosse algo tão negativo a ponto de estragar tudo. Outra crítica foi de que o filme parecia um remake de Uma Nova Esperança. Novamente, como se isso realmente fosse algo completamente negativo.
Eis que lançam a continuação, Os Últimos Jedi. Curiosamente, a crítica se inverte, agora com reclamações de que o filme foi muito diferente do que costumava ser, de que foi humorado (ou com humor de forma diferente do estilo dos filmes antigos), etc. Repleto de reviravoltas que poderão mudar tudo, o longa sofreu por parte de alguns, ironicamente com reclamações opostas ao seu antecessor.
Até reclamações das reviravoltas surgiram, com a alegação de que o filme não foi como esperado, por isso foi ruim. O fato do longa jogar fora todas as teorias criadas pelos fãs os deixaram irritados, o que automaticamente tornou um filme tão ruim que levou a criação de um abaixo-assinado (que posteriormente foi revelado ter sido feito como zoeira [sei...]). Parem para pensar: O filme surpreender é ruim? Presenciar o inesperado torna as coisas desinteressantes? Creio que não.
Curiosamente também, devo citar, que não vi reclamações sobre o filme parecer um remake da trilogia clássica, com foco em O Império Contra-Ataca. Há diversas passagens que remetem aos filmes, passagens com um modelo realmente idêntico.
Isso de parecer remake me lembrou de Jurassic World que, diferente de Star Wars, que só acrescentou no universo e inovou algumas questões, apenas pegou o que tinha de antes e fez mais do mesmo. Mas Star Wars que é igual, né?
Passageiros e o problema do gênero
O polêmico e fracassado filme de romance. O "Titanic espacial". Alvo de ataques por parte de quem não entendeu a trama e considerou machista demais. Salvo alguns detalhes que podem ser criticados, não é bem assim que as coisas são. Um filme que trata sobre desejo carnal, amor, posse, violação de direitos sobre a vida de alguém. Discussões totalmente interessantes representadas num longa sobre um cara que acorda uma mulher só para não se sentir sozinho, sendo que os dois morrerão antes da humanidade acordar.
Deixando tudo de lado, a crítica que mais vi ao filme foi algo banal e que remete em parte ao que citei sobre o último Star Wars: Não foi como esperado. Mas aqui a lógica é pior ainda, afundando num estereótipo preocupante. A reclamação foi de que era um filme de romance espacial. Pois é. O fato de ser um filme de ficção, se passar no espaço e ter a humanidade que sobreviveu adormecida e reunida numa nave supostamente deu a entender de que seria um filme de ação, repleto de acontecimentos inesperados. Em vez disso entregaram um drama romântico. Hum... Tem algo errado no pensamento das pessoas. Sério.
Complemento - IT e o problema do gênero
Falando em estereótipo, parece que vivemos a base de rótulos. Um filme tem seu gênero, mas não significa que ele tenha que se prender a apenas um estilo. A nova adaptação de IT se alterna entre o terror e a aventura. Temos crianças que só querem se divertir e aproveitar as férias, mas são aterrorizadas por um palhaço maligno, além de sofrerem bullying e terem problemas familiares. É caos por todo lado. Acontece que isso não agradou alguns, já que supostamente esperavam um filme de terror sinistro e receberam uma aventura, uma comédia, um drama. Ok, então.
A Ghost Story e o problema da lentidão
Esse cito por outro motivo. Não é sobre gente que viu pensando ser de terror e acabou recebendo um drama filosófico reflexivo sobre a vida, embora eu tenha visto um comentário assim. Aqui me refiro ao ritmo que um filme possui. Não é só porque ele é lento que ele é ruim. Como disse antes, gosto é gosto, cada um tem o seu, e uma pessoa pode normalmente não curtir filmes parados, mas dizer que é horrível ou algo do tipo é exagero.
Uma narrativa lenta pode agregar muito mais do que se pensa. No caso de A Ghost Story, que peguei como exemplo, temos uma mensagem bastante profunda sobre o tempo e o lugar que pertencemos. As cenas são carregadas de significados. A cena da torta, por exemplo, a mais longa do filme, remete a um crescimento de sofrimento.
Concordando ou discordando sobre tais estilos ou até mesmo cenas específicas, já que uma pessoa pode gostar de um filme ao mesmo tempo que discorda da forma que uma cena foi feita, não dá para sair argumentando que é algo vazio e sem sentido. Ora, 2001 pode ser cansativo demais de ver, mas possui seu significado. Aliás, ao pesquisar a mensagem por trás de cada cena, o filme acaba se tornando rico em conteúdo, por mais que de primeira possa não parecer. Precisava ser tão longo e monótono do jeito que foi? Talvez sim, talvez não, vai do gosto de cada um.
A Bruxa e o problema da falta de susto
Filme de terror tem que dar susto? Uma recorrente reclamação aos filmes de terror psicológico (ou suspense) é de que eles não assustam. Sério que tudo se resume a apenas cenas forçadas onde algo pula na tela? Quando foi que isso se tornou tão gratificante que superasse qualquer outro elemento? Um terror psicológico deve mexer com o psicológico (dã) da pessoa, criar uma tensão no público, envolver a ponto de fazer aquele que está assistindo sentir o drama do personagem, se passar por ele naquela situação.
Embora não seja o melhor exemplo devido ao marketing exagerado (o que levou a razão de algumas críticas), citei como exemplo A Bruxa pela popularidade que recebeu, mas acrescente aí qualquer um outro, como Ao Cair da Noite, Babadook, A Corrente do Mal, Não Pisque, Assim na Terra como no Inferno, A Visita, etc. Independente de gostar ou não, de achar parado ou agitado, não se deve julgar um filme por ele não dar susto. Isso é absurdo.
Interestelar e o problema da explicação
Esse não tenho muito o que comentar. Tem gente que achou o filme explicado demais, sendo que, quando um filme não explica nada, reclamam de qualquer jeito. Não creio que um filme bem explicado atrapalhe na narrativa. Os assuntos abordados no longa são complexos. O que conseguem fazer é passar isso para poucas palavras e deixar o público ciente do que estão vendo. Isso é gratificante. Não é porque algo é entregue "mastigado" que necessariamente é ruim.
Qualquer filme de fantasia e o problema de ver um estilo que não gosta
Não lembro agora de um filme que possa resumir bem a situação, mas isso vale para qualquer coisa. Resgatarei parte do que já citei anteriormente. Prosseguindo: Há aqueles que não curtem ficção/fantasia. Esse tipo de pessoal costuma gostar mais de filmes mais realistas. As coisas começam a sair de controle quando insistem em ver algo que foge da realidade e passam a reclamar disso.
De Star Wars a O Senhor dos Aneis, há quem reclame que os filmes são muito falsos, que acontecem coisas que não existem. Será que é por isso que se chama ficção? (rs) Reclamam da presença de aliens, de seres mitológicos, de qualquer coisa que não se tem confirmação clara da existência. Alguns vão além, reclamando de filmes mais pé no chão, como Expresso do Amanhã e Exterminador do Futuro, alegando que alguns elementos soam fantasiosos demais para ocorrer na vida real, ignorando assim qualquer tipo de mensagem que o filme queira passar. Não conseguem enxergar sequer o que está acontecendo só pelo fato de não ser a realidade representada como ela é de fato (considerando a situação atual). Difícil de descrever o quanto de problema tem nesse pensamento. Nem sei o que dizer, na verdade.
Melhor encerrar por aqui. E nem entrei na questão de adaptações porque daria um texto tão grande quanto esse, mas precisaria abordar outros assuntos também.
Conclusão
Procurem entender melhor o que veem e tenham conclusões mais convincentes. Gosto é gosto, como cansei de repetir no texto, que, apesar de adaptável, cada um tem o seu, mas temos que procurar sentido em alguns detalhes para que as pessoas entendam. Não gostar de algo sem motivos concretos é como ter birra por pura e livre vontade sem ninguém ter feito nada.
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