[Cinema] Nintendo e Eu (Death of Nintendo)

 O florescer da juventude no início dos anos 90 nas Filipinas, contado de forma nostálgica, lembrando muito o estilo de "Conta Comigo" (Stephen King), uma turma de jovens entrando na adolescência passa seus dias vivendo altas aventuras, seja jogando Nintendo e Mega Drive, ou mesmo saindo para ver as meninas do bairro.

"Nintendo e Eu", o mais recente filme do cineasta filipino Raya Martin, é uma obra nostálgica e carinhosa que retrata a juventude dos anos 90. O longa-metragem apresenta elementos comuns da adolescência, como a descoberta da sexualidade, do amor, da amizade e das tensões familiares. O protagonista é Paolo (Noel Comia Jr.), um adolescente superprotegido pela mãe e apaixonado por videogames. No entanto, a erupção do vulcão Pinatubo causa uma série de terremotos, cortando a energia elétrica em toda a Filipina e forçando Paolo e seus amigos a saírem de casa para se distrair.

Durante essa aventura, Paolo se apaixona por Shiara (Elijah Alejo), a garota mais popular do bairro, mas não percebe que sua amiga Mimaw (Kim Chloie Oquendo) nutre sentimentos por ele. O roteiro é assinado por Valerie Castillo Martinez, que usa suas próprias experiências para criar a história de um grupo de adolescentes nos anos 90.

O visual do filme é uma homenagem aos filmes da época, com uma estética que equilibra a artificialidade da década com a luz natural. Raya Martin, conhecido por obras como "Independência", explora o desenvolvimento de personagens em um ambiente de desigualdade, algo importante para ele, que cresceu em um subúrbio filipino e era uma época em que precisava esconder o fato dele ser gay (que apenas nos dias atuais é algo mais aceito na região).

Valerie Castillo Martinez, produtora do filme, fundou a IndieFlip, uma empresa de cinema que busca trazer para a tela temas transculturais e sub-representados. Para ela, a história de "Nintendo e Eu" é uma forma de se conectar com o público jovem e explorar questões universais sobre o amor e a autodescoberta.

O longa-metragem de Raya Martin é uma viagem no tempo para a geração dos anos 90, mas também é uma apresentação sincera às gerações futuras. É uma história sobre adolescentes descobrindo a si mesmos em um mundo de terceiro mundo, lidando com a dominação masculina enquanto tentam articular seus afetos pelo sexo oposto. Não é apenas uma história de perda, mas também sobre o nascimento da personalidade na vida real. "Nintendo e Eu" é uma obra cinematográfica encantadora que tem muito a oferecer para todos os espectadores.

Regado à cenas de inocência sobre assuntos sentimentais, e até mesmo relacionando sons de videogame em situações da vida real, temos vários paralelos bem interessantes e pontuais com um olhar simples e amoroso, praticamente uma carta de amor à juventude no início dos anos 90, levando bastante o esp´´irito de filmes dos anos 80, como o próprio "Conta Comigo" (Stephen King), temos aqui uma turma de amigos inseparáveis, que se unem, por bem ou por mal, e amadurecem juntos, seja na dor ou no amor.

Os elementos apresentados em cada personagem, e até os itens e costumes de época conseguem conquistar nos mínimos detalhes, comoa rivalidade entre gente nova na turma, pessoas comuns frente à frente com os populares da escola, e até mesmo o bullying da época, conseguem registrar bem o quanto o mundo era diferente dos dias atuais.

A superstição exagerada de algumas pessoas, e a imaginação fértil de Paolo, consegue fazer o garoto se sentir confuso e frustrado, quando se apaixona pela garota popular, e não nota que sua amiga mais próxima gosta dele da mesma forma. E mesmo sendo um clichê, é mostrado aqui da forma mais pura, clássica e inocente, como eram as crianças de antigamente.

Misturando idioma filipino e o inglês, e se passando na época em que as erupções do vulcão Pinatubo deixavam muitas casas sem luz e comunicação por dias, conseguimos sentir quase como se estivéssemos lá, naquela época e local, vivendo com os amigos, cada momento. As inseguranças, as incertezas, as alegrias e tristezas, e até mesmo as ilusões, são compartilhadas com uma atuação muito boa das crianças do filme, e a trilha sonora recheada  de músicas populares e de videogame (principalmente sons do Nintendinho em sua primeira versão do Famicom).

O filme ainda mostra os consoles Famicom (dando ênfase nas jogatinas dos jovens no primeiro Zelda, em cartucho japonês, e mostrando até a clássica assoprada na fita antes de jogar) e Sega Mega Drive (justamente os dois principais rivais da guerra dos 16 bits, que estavam em alta naquele momento). Várias referências à itens de época podem remeter à memória afetiva do espectador.

Um filme reflexivo e necessário, sem uma bagagem pesada, que se torna uma agradável ida no cinema ao fim da tarde para relaxar e aproveitar, seja sozinho, ou em casal. É bastante recomendado, principalmente, para pessoas entre 25 e 40 anos, que aproveitaram a infância nessa época retratada no filme. Dou nota 8.0 pela boa qualidade do roteiro, iluminação, escolhas de elenco, etc.

O filme está previsto para ser lançado dia 27 de Abril, pela Pandora Filmes, nos cinemas brasileiros.

*Quer comprar um Nintendo Switch?*