Emmy Elimina a Categoria Tema de Abertura
A Academia de Televisão Americana anunciou ter eliminado a categoria Tema de Abertura da entrega do prêmio Emmy. A decisão foi divulgada após notificarem seus membros votantes, embora uma parte deles tenha resistido à decisão. A atitude encerra uma tradição que surgiu nos anos 50, em que compositores são premiados com um Emmy por suas músicas de abertura. É fato que a Academia apenas dá continuidade ao abandono iniciado pelos produtores e emissoras, que vêm ao longo dos últimos anos trocando composições originais por aquelas pré-existentes; outros, eliminaram a própria abertura, deixando os créditos inicias da série correrem durante as primeiras cenas dos episódios.
O caminho inverso também existiu; ao longo das décadas de 60 e 70, compositores do cinema, encontrando dificuldades em conseguir trabalhos, buscaram na televisão oportunidades para deixar suas marcas na lembrança do público de séries; entre eles, Bernard Hermann, George Duning, Franz Wasman e Alexander Courage. Os compositores que trabalhavam para o cinema ainda consideravam os temas de aberturas das séries como fator depreciativo em seus currículos; mas com a chegada das minisséries nos anos 70 o mercado e sua credibilidade se renovou, permitindo que outros profissionais fizessem a migração.
Uma Breve História dos Temas de Aberturas
Quando a TV comercial teve início nos EUA, ela adaptou vários programas já conhecidos no rádio. Com isso, os temas de abertura foram mantidos, visto que eles já tinham um forte apelo e identificação com os programas. Tal como hoje, a maioria das produções da época utilizavam músicas já existentes, chamadas de 'canned music'. O principal motivo para isso era o baixo custo, sendo que as clássicas ainda tinham a vantagem de serem de domínio público.
O mais famoso tema de abertura de uma série que seguiu essa linha de trabalho foi "O Cavaleiro Solitário/ The Lone Ranger" que entre 1949 e 1957 entrava na casa dos telespectadores ao som de um trecho da ópera de Gioacchino Rossini, "Guilherme Tell", composta em 1829. O tema de abertura já era utilizado pelo programa desde quando estreou no rádio em 1933. Se fosse trocado, descaracterizaria o personagem.
Ao longo dos anos 50 a televisão começou a utilizar o sistema de catálogo musical, através do qual contratavam empresas ou profissionais que se encarregavam de encomendar a produção de músicas para serem executadas em cenas de ação, suspense, romance, etc. Uma das mais famosas era a Capitol Records que dominou esse mercado nos anos 50 e 60. Com isso, as mesmas músicas eram utilizadas em episódios de diversas séries de TV.
Para os temas das séries, começaram a ser contratados compositores desconhecidos ou imigrantes, que compunham temas de abertura e encerramento, os quais serviriam para identificar o programa. Uma das primeiras séries a ter tema de abertura original foi "Danger", uma produção antológica de 1950 a 1955, que teve o primeiro episódio dirigido por Yul Brynner. O ator, que ficaria famoso com o musical "O Rei e Eu", insistiu que a produção tivesse uma música tema original. Assim, Tony Mottola, funcionário da CBS Television, foi o escolhido para compô-la
No ano seguinte estreou a série "Dragnet", produzida entre 1951 e 1959, que trouxe para a TV um dos temas mais marcantes da década, composta por Walter Schuman. O tema de abertura chegou a figurar entre as 10 músicas de maior sucesso do ano de 1953, tornando-se a primeira composição feita para uma série de TV a atingir essa marca. Em 1954, a música deu à Schuman o primeiro Emmy oferecido à um tema de abertura.
Mas, esses não seriam os únicos reconhecimentos que a música teria. Schumann foi o primeiro compositor a ser acusado formalmente de plagiar uma composição para adaptá-la a um tema de abertura televisivo. A acusação foi feita pela Robbins Music Corporation, que oferecia arquivos musicais à Universal. Segundo eles, a música teria sido composta por Miklós Rózsa para o filme "The Killers", de 1946. O músico ficaria mundialmente famoso ao receber o Oscar pela música de "Ben Hur". Acreditando que a adaptação não tinha sido intencional, as partes chegaram a um acordo que beirou a casa de 100 mil dólares e 50% dos lucros futuros.
Outras composições originais se seguiram ao longo dos anos 50, tanto para músicas orquestradas quanto cantadas. O sucesso dos programas da Disneylândia a partir de 1954, fizeram com que o mercado se ampliasse. A própria Disney seria uma das primeiras produtoras a criar um departamento musical para suas produções para a TV, que incluíam "O Clube do Mickey" e "Zorro". Em 1958, surgiria outra música tema que marcaria sua época e o nome de seu compositor. A série era "Peter Gunn" e o compositor era Henry Mancini.
Para as séries em geral, as música de abertura tinha preferência para se tornar original, enquanto a trilha sonora dos episódios, na maioria, continuava a utilizar composições de catálogos musicais. Nos bastidores, a televisão travava uma disputa com o Sindicato dos Músicos, que havia estabelecido uma taxa para cada composição feita por seus membros e extraídas do catálogo musical.
Ao longo dos anos 60, os temas de abertura tornaram-se quase uma obrigação para uma boa parte das sitcoms produzidas na época, pois através dele era cantado o enredo da série. Dessa forma, quem tinha perdido o episódio piloto poderia ser introduzido ao universo da série através da música. Também existia o caso de se lançar uma série com tema de abertura orquestrado, para, mais tarde, ter seu(s) ator(es) principais gravando álbuns, nos quais interpretavam a versão com letras, como foram os casos das séries "Dr. Kildare" e "Bonanza".
Na década de 70, as séries policiais predominaram nessa área, trazendo composições orquestradas, bem como as já mencionadas minisséries. Nos anos 80, os temas que predominaram foram os das novelas noturnas e de séries de aventura. Foi nessa época que surgiu "O Super-Herói Americano", que tem aquela que é considerada por historiadores como a abertura mais longa da história da TV, pois além da música tema, ainda trazia um resumo do enredo narrado (e não cantado); o mesmo ocorreu com "Duro na Queda", que traz um resumo da proposta da série e depois o tema de abertura.
Até os anos 80 era comum ver nas séries um trailer do episódio antes da abertura da série, que era seguida do início do episódio. A partir da metade da década de 90, os canais começaram a reduzir o tempo entre um programa e outro para segurar a audiência. Mas, ao invés de diminuir o intervalo comercial, que é o sustento das emissoras, eles eliminaram os resuminhos (trailers), dando início direto ao episódio, seguido do tema de abertura com o tempo de duração reduzido. Outra alternativa foi a de eliminar totalmente o tema de abertura de uma série, apresentando os créditos ao longo da exibição de cada episódio. Uma das séries que não só manteve uma música tema, mas também resgatou o tipo de abertura que era produzido nos anos 60 foi a sitcom "The Nanny".
Atualmente ainda podemos ver temas de aberturas nas séries americanas, incluindo pela TV a cabo; embora, muitas vezes, utilizem músicas pré-existentes, como ocorreu no início da televisão nos EUA.
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YATTA!
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