Header Ads

[Crônica] O Peso das Palavras e o Perigo da Caça às Bruxas

 Você já parou pra pensar no quanto a nossa voz tem peso? Hoje, qualquer pessoa com um celular na mão e uma conta em rede social carrega, literalmente, um microfone aberto para o mundo. E isso é poderoso. Poderoso demais. Mas como toda arma poderosa, isso também pode ferir — e, às vezes, ferir de forma irreversível.

Imagem meramente ilustrativa

Recentemente, assisti a um desabafo. Um vídeo indignado, com razão em alguns pontos, mas que também me acendeu um alerta: quando o ódio se disfarça de justiça, a gente corre o risco de virar aquilo que jura combater.

O autor falava sobre fake news, e eu concordo: espalhar mentira, principalmente sobre morte, não é brincadeira. É irresponsável. É desumano. Mas o problema começa quando, ao condenar o erro de um, ele amplia a punição para muitos.

Digo isso porque, no vídeo, o comunicador se exaltou a ponto de pedir que NENHUMA empresa jamais contrate mais aquela pessoa — que ele nem nomeou, mas descreveu de forma tão intensa que parecia um aviso velado a todo mundo do meio. E quando você não nomeia, você deixa no ar a dúvida, o medo e, pior ainda, o risco de um efeito dominó.

Porque o apresentador que virou alvo daquela crítica, pelo que se sabe, foi apenas o último elo de uma corrente de desinformação que começou antes — vinda, inclusive, de alguém conhecido por NUNCA brincar com assuntos sérios.

Ou seja: talvez aquele erro tenha sido o primeiro dele. Talvez ele tenha sido mal informado. Talvez ele só tenha reproduzido algo que parecia verdade, e caiu na mesma armadilha que qualquer um de nós pode cair.

E aí eu te pergunto: uma pessoa merece ser banida do palco, da profissão, da arte, da confiança, por um único erro? Mesmo se esse erro foi cometido por impulso, por desatenção, ou por confiar demais em quem parecia confiável?

Mais perigoso ainda: quando você diz que “empresas jamais devem contratá-lo”, sem dizer nomes, você espalha esse julgamento pra todos. Todos os apresentadores viram suspeitos. Todos os comunicadores que já erraram, mesmo que sem intenção, viram ameaças.

E se um dia você mesmo errar? E se, no calor da emoção, você for injusto com alguém? Você também vai aceitar ser colocado no paredão da internet, perder oportunidades, ser boicotado por empresas (até mesmo de dublagem), por uma frase mal colocada?

Esse é o perigo da generalização. Do julgamento coletivo. Da raiva que vira regra. Da perigosa cultura do cancelamento, que já teve vítimas fatais, por besteira. 

A gente viu isso acontecer antes. Teve o caso de um influenciador, o Reckful (ou Byron, seu nome real), que foi um dos primeiros streamers da Twitch e Top 1 Rogue PVP de World of Warcraft do mundo, que fez um pedido de casamento público pelas redes — um gesto romântico, inocente, mas que acabou sendo interpretado por muitos como pressão emocional. A chuva de críticas foi tão intensa, tão pesada, que ele não conseguiu suportar. Silenciou para sempre.

E o mais triste: a namorada, que ainda nem tinha visto o pedido, tinha se emocionado ao descobrir... e queria dizer “sim”. Mas já era tarde.

É esse o preço da fúria sem pausa. Da condenação sem contexto. A gente não tá falando de erros sem consequências, mas sim de julgamentos sem compaixão.

A crítica é válida. O alerta é importante. Mas a punição eterna, cega e sem contexto, não é justiça. É linchamento. A comunicação não é só poderosa. Ela é delicada. E quando a usamos para alertar, precisamos cuidar paranão ferir quem não merece.

Porque senão, a gente pode acabar fazendo com os outros… exatamente o que a gente condena.

Responsabilidade não é só no que se fala. É também como se fala. E pra quem.

Nenhum comentário

Tecnologia do Blogger.