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A Camisinha Assassina (review)


 
Quem me conhece, sabe que eu curto MUITO filmes de terror/comédia/trash dos anos 90 para trás. A maioria não vê a verdadeira arte que havia nestes filmes! Talvez, depois de vocês darem uma passada nos títulos antigos, consigam ter uma idéia do quanto é bom...

Uma das grandes e infelizes verdades imutáveis da vida é que as distribuidoras brasileiras têm um sério descaso com o fã de filmes alternativos e cinema classe B em geral, porque senão poderíamos ter ao menos alguns filmes lançados no Brasil da nata do cinema trash americano: a Troma.

Fundado em 1974 a partir da cabeça do visionário (e maluco) cineasta Lloyd Kaufman que acredita na idéia de “jamais esconder suas idéias por mais ridículas que elas pareçam” gerou pequenas pérolas da sétima arte como a cinesérie THE TOXIC AVENGER (uma de minhas favoritas) e outros como SURF NAZIS MUST DIE, TERROR FIRMER e SGT. KABUKIMAN quase todos inéditos e/ou marginalizados no Brasil.

Distribuído nos Estados Unidos pela Troma e milagrosamente (embora pessimamente) distribuído nos áureos tempos do VHS no Brasil, A CAMISINHA ASSASSINA, é uma típica produção daquelas que se enquadram bem em seu lema no gênero “Objeto inanimado mata pessoas” (O ELEVADOR ASSASSINO, A GELADEIRA ASSASSINA, use a criatividade…) e que por motivos óbvios não conseguiria ser produzido ou distribuído por nenhuma das poderosas produtoras de blockbusters do cinema.

E então depois dessa breve introdução, vai me dizer que assim como eu, você não sentiria uma curiosidade danada em assistir um filme com uma idéia tão absurda? O resultado é um filme ruim que prende a atenção (assim como "Dudjinka - O Monstro Assassino", produção nacional de 2008), mas sem o gorefest que poderia render em uma produção como essa e um pouco enrolado em suas próprias explicações.

Baseado uma história em quadrinhos criada pelo cartunista Ralf König (provavelmente depois de ingerir muitas substâncias proibidas), o enredo é relativamente simples e pontuado de situações cômicas, contudo se a idéia de um filme como esse já parece esquisita, ele ainda trata assuntos sérios e delicados como a homossexualidade, a liberação sexual e a prostituição o que certamente faria os produtores moralistas de Hollywood torcerem o nariz.

Filmes antigos são uma verdadeira viagem, e não digo isso apenas por causa da época, e sim, por causa do conteúdo, que é sempre bastante variado e inovador. Uma das pérolas raras da época é este filme, “A Camisinha Assassina” (de Martin Walz), que, pelo nome, já dá para perceber o que esperar...



A história gira em torno de Luigi Mackeroni (Udo Samel), um detetive que começa a investigar diversos casos de prostitutas que estão acarrancando os pênis de seus clientes. Logo, ele vai descobrir que a história é mais complexa do que parece, e também estará correndo risco de se tornar uma vítima da camisinha assassina.

O roteiro ainda vai mais além, mostrando subhistórias diferentes e engraçadas. Como o amor que o protagonista sente por um jovem garoto de programa, ou então, o caso de amor platônico de seu amigo-travesti-ex-policial, realmente muito engraçado.

Mas a melhor cartada é, com certeza, no final. Quando aparece uma mega camisinha para dar cabo do protagonista (já que o “bagulho” dele é gigante). Muito engraçado.

Os efeitos especiais até que estão aceitáveis e surpreendem pela época. O roteiro ainda tem tempo para demonstrar que as camisinhas tem sentimentos. Agora, se você quer assistir esse filme para ver mulheres nuas etc, vai quebrar a cara, já que o elenco é praticamente todo composto por homens, e ainda tem uma temática gay muito forte. Nota 8,5.

Bom, vou explicar melhor a situação da história, com mais detalhes:

Em Nova York em um motel de segunda com um nome bem sugestivo, “Quickie” (em português algo como “Rapidinha”), um professor safadão tenta seduzir Phyllis Higgins (Meret Becker), uma gostosa aluna de sua classe em troca de aumentar sua nota, até então nenhum problema (hahaha). A princípio reluta, mas a necessidade fala mais alto e mesmo chorando, aceita a proposta do professor. Então quando o professor vai colocar o preservativo, eis que é uma camisinha carnívora que come o dito-cujo do rapaz e muito sangue jorra.

Entram os créditos iniciais e na cena seguinte estamos no departamento de polícia de Nova York, onde o popular detetive Luigi Mackeroni (Udo Samel) é convocado em seu dia de folga pelo chefe de polícia (Ron Williams) para investigar o caso de Phyllis e de mais outros três casos iguais que aconteceram na mesma noite.

Mackeroni é um policial durão, siciliano truculento e não tira o cigarro da boca, como todos os investigadores de filmes americanos, não fossem por dois detalhes: O detetive é homossexual e é, bem, digamos, eh, um rapaz bem dotado.

E então Mackeroni vai a espelunca do motel Quickie para investigar e acaba se divertindo um pouco com o garoto de programa Billy (Marc Richter) quando encontra Bob Miller, ou como é mais conhecido, Babette (Leonard Lansink). Babette é um ex-policial que foi parceiro de Mackeroni, mas um dia enquanto bêbados, foram parceiros de outra maneira e depois dessa, Bob largou a polícia e virou um travesti que trabalha no Quickie, faz terapia e sonha com a Broadway (Caramba!!).

Babette ainda gosta de Mackeroni, faz algumas indagações malucas e enciúma com Billy, mas Mackeroni simplesmente ignora. Já no quarto, enquanto Mackeroni e Billy estão quase nos finalmente, uma camisinha colocada sobre o criado-mudo se move e pula para de baixo de um móvel, e quando Mackeroni vai ver o que se trata, a camisinha arranca fora o testículo direito (Ai, que dor!) do policial.

Anteriormente cético, Mackeroni se convence da pior maneira possível de que existe uma camisinha assassina e leva para o lado pessoal, afinal além de perder uma bola, ele virou piada dentro do distrito e como se não bastasse, os casos aumentam exponencialmente. Mackeroni resolve então, junto com seu novo parceiro – de serviço, ó mente poluída - Sam Hanks (Peter Lohmeyer) investigar o Quickie e acaba confirmando seu conceito, depois que mais uma vítima é castrada e após uma estranha perseguição nos corredores do hotel o meliante consegue fugir. Mesmo assim é ridicularizado e afastado do caso, então ele volta para sua casa e vai tomar um banho, ao passo que Babette invade seu apartamento para acertar contas com ele, em uma divertida cena que satiriza o clássico PSICOSE.

Só que o travesti sem saber, trouxe uma das camisinhas assassinas e para pegá-la Mackeroni tem a idéia de usar uma mangueira de gás como isca. Funciona, mas a camisinha explode e é encaminhada para uma “autópsia”. Na investigação é descoberto que na realidade a camisinha é um organismo complexo e primitivo, feito com tecido humano (!!) e concebido por experiências genéticas, o que é um conceito meio forçado, parecendo que veio de um episódio de ARQUIVO X.

Eis que chega a cidade um candidato à presidência, McGouvern (Georg-Martin Bode) que prega a moral e os bons costumes, só que ele também é dado a suas escapadinhas e também acaba atacado, fato que vaza para a imprensa e faz com que o chefe de polícia fique em uma situação desconfortável tendo que admitir publicamente que existem camisinhas assassinas a solta, o que transforma a corporação em uma grande piada.

As investigações continuam e chegam ao nome do renomado Dr. Boris Smirnoff (Ralf Wolter) especialista em derivados de borracha e que estava passando a dedicar tempo a pesquisa genética e está desaparecido, para tentar alguma pista, Sam é forçado a se disfarçar e investigar em boates gays, em uma cena desnecessária, mas hilária.

Quando em um dos acasos da vida (e usando uma solução de roteiro bem da vagabunda), aparece na delegacia uma mulher de fala confusa que teve o nariz mordido por uma das camisinhas leva os policiais para um hospital localizado dentro de uma igreja, onde as camisinhas são fabricadas e os envolvidos e as intenções são reveladas, com direito até a uma super-camisinha monstro para o seu, cof, cof, aham… membro avantajado.

O roteiro não tem soluções complicadas e reviravoltas surpreendentes, dá pra matar o final do filme aos 15 minutos de projeção, mas mesmo assim é muito bem conduzido pelo diretor Martin Walz, porque mesmo sendo uma produção de baixo orçamento as interpretações são convincentes apesar de alguns exageros, e os diálogos são bem trabalhados com destaque para as narrações em off de Mackeroni.

Pelo seu próprio conceito, obviamente, trata-se de um filme caricato que nunca se leva a sério e que por tratar da relação homossexual de Mackeroni de uma maneira mais explícita, certamente seu avô mais quadradão ou sua avó carola não vai gostar. Todavia não é um filme homofóbico, muito longe disso, defende a ideia que cada um deve fazer o que quer da vida sem julgar as pessoas pela sua orientação sexual ou religiosa, conceito bem empregado pelo diretor Walz.

Além disso, a violência é contida e todas as cenas de bilaus decepados são off-screen, valorizando mais as investigações e as piadas de humor negro. A narrativa deixa um pouco a desejar porque frequentemente enrola demais no romance entre Mackeroni e Billy e nas explicações finais, afinal estamos falando de um filme distribuído pela Troma, que costuma ser um gorefest sem pé nem cabeça.

Uma das coisas divertidas sobre a película é que ela, por ser uma produção sueca e alemã com locações em Berlim (apenas algumas cenas externas foram filmadas nos Estados Unidos), os habitantes da cidade de Nova York passam a falar um alemão fluente com uma naturalidade incrível, inclusive o policial italiano, tornando os diálogos muito mais engraçados, como em um dos monólogos de reflexão de Mackeroni: “O que um homem pode fazer em Nova York se estiver solitário e sem um pênis??” Hahahaha…

Enfim, é um filme de diversão rasteira e despretensiosa que tem grande potencial de se tornar um cult e quem não se incomoda em ver dois homens se beijando em um elevador vai curtir bastante. Lançado há muito tempo pela distribuidora Reserva Especial já é muito difícil de se encontrar em VHS, e assim como muitos outros filmes produzidos e/ou distribuídos pela Troma, provavelmente jamais será lançado em DVD no Brasil o que é uma grande sacanagem, visto a quantidade enorme de produções trash que o público brasileiro está perdendo em assistir e ficarem Tromatizados também (desculpem o trocadilho).

Particularmente, sou feliz de ter assistido na época em que veio em VHS, e não ter preconceitos, afinal, é uma pérola dos cult/classicos! Eu não me importaria de ir ao cinema para ver a continuação hoje em dia!



Curiosidades:

- O filme foi rodado em Berlim e Nova York, mas dos mais de dois meses de filmagens, apenas 18 dias foram em solo americano.

- Para interpretar o fumante inveterado Luigi Mackeroni, Udo Samel teve de fumar cerca de 40 cigarros nas filmagens.

- Ralf König trabalhou no script de uma possível continuação, que está atualmente engavetada. (por que será???)

- Foram utilizadas 240 camisinhas autênticas e cerca de 500 replicas de borracha.

- Ralf König e Martin Walz fazem pequenas pontas dentro do filme, ambos aparecem em cenas minúsculas no hotel “Quickie”, piscou, perdeu.

YATTA!

bye-Q!

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