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O Rei Lear e o Playboyzinho Renascentista

(publicado originalmente em Reg Thorpe - Fornit Some Fornus)

Antes de mais nada, acho que já descobri porque não gosto de Shakespeare: o cara era filho de um comerciante rico, provavelmente passou a sua juventude na mordomia, só fazendo o que dava na telha. Em resumo: Shakespeare era um filhinho de papai e só Deus sabe (espero) o quanto eu ODEIO filhinhos de papai. Já até imagino um jovem Shakespeare em uma taverna no sábado à noite, pagando cerveja para todos os amigos e se vangloriando para as garotas, assim como suas tentativas de impressioná-las com sua carruagem tunada. E, perto do balcão do bar, caras como eu só de butuca, olhando (afinal, o que mais podemos fazer?).
Fora o fato de que William já é nome de coisas ligadas à realeza. Eu não teria conseguido engatar uma conversa com Shakespeare. Ele deve ter sido um cara realmente mala.
Mas vamos falar de Lear... Rei Lear.

Meu curso universitário meio que me obrigou a ter contato com a obra do mauricinho renascentista, então, depois de ler o superestimado Hamlet, acabei de ler Rei Lear.
Quando falei de Hamlet, já havia mencionado o fato aquela linguagem poética demais me provocar enxaquecas (OK, estou exagerando) e todo aquele "oh, vida desgraçada" parecer um tanto nhém-nhém-nhém demais. Em Rei Lear, a linguagem é um pouco mais real, mas não muito mais do que isso. O tema principal é, basicamente, a velhice e a prepotência das gerações mais jovens em querer assumir as posses dos mais velhos a qualquer custo. Neste quesito, devo dar mérito ao autor. Essa coisa de filhos de gente rica se importar mais com sua herança do que com os pais é algo que já vem de bastante tempo e os séculos não mudaram. Basta ver o caso de Suzane Von Richthofen.
Tá certo, é bastante provável que os admiradores de Shakespeare que lerem esse texto vão me odiar pelo resto de meus dias, mas digo-vos, ó estudantes de teatro: ao que parece, nas obras dele em que os protagonistas são parte da realeza, muitas batalhas tomam forma depois de conflitos pessoais/familiares entre reis, duques e condes. Ou seja, muitos soldados/plebeus perdem a vida para satisfazer os caprichos de quem realmente "comanda" as coisas nos bastidores. E, ao que parece, por ser justamente de família rica, Shakespeare não via as questões humanas das pessoas de baixo. Em suas obras (OK, em todas as duas que li), os plebeus tratam os patrões como deuses enquanto os nobres tratam o povo como lixo. Isso é absolutamente natural, já que naquela época (e hoje também!) as coisas realmente eram assim, mas tenho a impressão de que o artista achava isso totalmente natural.

Realmente acho que Shakespeare é superestimado.

Quanto ao enredo de Rei Lear, a trama começa quando ele, então Rei da Bretanha, decide dividir seu reino entre suas três filhas, Goneril, Regana e Cordélia. Por um motivo idiota (talvez o velho já estivesse ficando gagá), renega Cordélia, a caçula, por ela não ser tão aduladora quanto as outras duas e deixa o reino apenas para Goneril e Regana. Cordélia se casa com o Rei da França (logo no início já desconfiamos de que, é claro, Lear vai se arrepender no final, suas filhas mais velhas vão tratá-lo como um velho senil e que vai ser obrigado a reconhecer o amor verdadeiro de Cordélia).
Em uma história paralela, o Conde de Gloucester sê vê em uma trama arquitetada pelo seu filho bastardo Edmundo, que o faz se voltar contra seu filho legítimo Edgar. Edmundo faz o pai acreditar que Edgar pretende matá-lo para ficar com a herança.

Entenda bem, a história não é ruim. OK, Hamlet realmente é uma droga, mas como eu disse, em Rei Lear o autor soube passar bem essa questão da relação entre pai, filho e herança. Mesmo assim, não se engane. Assim como em Hamlet, no final de Rei Lear morre todo mundo.

Talvez Shakespeare tenha visto e gostado do filme Os Infiltrados.

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