Precisamos emputecer: "Eu Ainda Estou Aqui" é o melhor filme de todo o Oscar e não recebeu tudo o que merecia
Olá, eu sou o Victor, alguns podem me conhecer pela live semanal que tenho junto com o Yatta e o Lello: o Nerdice Me Disse. Até há pouco tempo, eu tinha o meu próprio site, o Nerdice.com, mas ele está sendo reconstruído do zero e este texto não podia esperar.
Então, vamos falar de Brasil e de Oscar?
Pra começo de conversa, os votantes da Academia são majoritariamente americanos que tem como principal objetivo:
a) favorecer os seus;
b) ditar a indústria como um todo;
c) se dada a oportunidade, fabricar novas estrelas que serão usadas e jogada pra escanteio 20 anos depois.
O que de bom um Oscar pra Fernanda Torres daria para Hollywood? Uma atriz brasileira, de sotaque forte e com 60 anos de idade! Nem as próprias atrizes americanas nessa faixa etária têm muito uso pra eles. Indicaram Demi Moore e celebraram "A Substância" só pra fingirem por um minuto que se importam com o etarismo escancarado do áudio visual americano.
"Um excelente filme em português? Se contentem com o Oscar pra filme internacional que criamos pra vocês acharem que fazem parte disto aqui. Já nos aventuramos a premiar com a honraria máxima um filme como o de vocês, mas só pra abrir um precedente e causar a impressão de que nós sempre vamos premiar o melhor, independentemente na nacionalidade do filme. Vocês acreditaram mesmo que tinham chance? Tadinhos."
"Uma brilhante atuação nesse filme em português? Ela é bonita? Ela é jovem? Ela fala bem inglês? Ela poderia ser uma super-heroína, uma princesa ou uma aventureira? Pois é, né! A nossa é tudo isso. Desculpe, não importa se é a melhor atriz do mundo, se não cumprir esses quesitos não serve pra gente."
Essas são falas imaginárias que ilustram bem as lições que ficaram após a última cerimônia do Oscar. A Academia ludibriou o mundo inteiro ao, anos atrás, dar o Oscar pra Parasita, mas foi tudo joguinho pra angariar mais influência e soft-power para a própria indústria americana. Não vamos continuar nos enganando achando que os filmes não-americanos disputam em pé de igualdade com as produções da toda poderosa Hollywood, pois não é e nunca será o caso.
Por mais que eu goste de Anora, pra mim ele está fadado a cair no "que filme ganhou ano passado mesmo?", da mesma forma que foi com Nomadland e CODA, pra citar dois exemplos bem recentes. Muitos se perguntam "O que precisa um filme pra ser digno do Oscar?" eu respondo: memorabilidade. CODA venceu "Duna: parte 1"; Nomadland venceu em um ano com Druk e Minari. Na história do Oscar existem vários vencedores que são rapidamente esquecidos e perdedores que entram pra história (como um tal "Cidadão Kane"). Posso estar errado, mas acredito que Anora será um desses casos de vencedores esquecidos. E Ainda Estou Aqui será eternamente lembrado em uma nação de mais de 200 milhões de habitantes.
"Eu estava torcendo para 'Ainda Estou Aqui', mas Anora é bom e mereceu"
Vou falar pra vocês: me incomoda muito essa de "claro que mereceu! Mas se fosse esse outro, merecia também. E se fosse aquele outro lá, claro que também mereceria". Muito chata essa política do "todo mundo que tá ali merece" que vejo empregada por muitos críticos.
Pô, vamos ter mais comprometimento com uma preferência, uma torcida, uma história, uma visão. É óbvio que um vai merecer mais do que o outro, ou senão o Oscar sempre terminaria empatado. "Ainda Estou Aqui" é um filme melhor que Anora, e foi feito sem o aparato da indústria estadunidense. Dane-se que Anora é um filme "barato" pros padrões deles, ainda é um filme americano feito por um americano e para os americanos.
Parte da razão do Brasil ter ganhado o primeiro Oscar só agora é nosso viralatismo. Eu me lembro bem de quando Central do Brasil perdeu e os brasileiros começaram a assistir A Vida é Bela e justificar nossa derrota com "ah, mas realmente, esse filme é muito melhor"!... E puta que pariu, aquele filme é uma grande bosta, mas precisávamos nos convencer do contrário pra derrota ser menos ardida. Veja como uma derrota da Fernanda Montenegro pra uma atuação visivelmente inferior nos dói até hoje; foi um caso que nem com todo o viralatismo do mundo foi possível fazer um malabarismo meritocrático pra dizer que Gwyneth Paltrow era a merecedora daquela estatueta. E por mais que Mikey Madison seja sim muito boa, hoje não precisamos brandir "Anora é melhor, Mikey mereceu" pra frustração ser menor. É pra ficarmos frustrados mesmo. É pra dizer "a gente merecia os 3 Oscar e muito mais".
"Ah, mas a Mikey mereceu sim...". Se seu pensamento for alinhado com o da Academia, então sim, ela mereceu. Mas se você quer só avaliar a melhor atuação do ano... cara, estamos comparando a melhor atuação de uma das melhores atrizes brasileiras da história com a atuação muito competente de uma jovem atriz que tem de idade o que a primeira tem o dobro de carreira. É IMPOSSÍVEL ser melhor. Não é demérito ter 25 anos e ser derrotado por alguém de 60 que é objetivamente melhor. Mas é triste vencer sabendo que... bom, que você não é a melhor.
Nosso filme aborda um tema muito mais importante, tem atuações melhores, a história da campanha muito mais significativa... É óbvio que a gente merecia mais. E os críticos e público ao redor do mundo parecem concordar, basta ler as críticas e opiniões nos mais diversos veículos.
Me diverti horrores com Anora e curto muito o filme, mas não é por isso que vou colocá-lo em pé de igualdade com o nosso Ainda Estou Aqui. "Ah, mas é clubismo..." e em parte é mesmo, e daí? A gente entende e sente mais sobre a importância desse filme do que os não brasileiros. É preciso mais orgulho, mais indignação diante de uma injustiça. Mas também nosso filme é DE FATO o melhor. E nossa atriz é DE FATO a melhor. É preciso aceitar isso. É preciso ficar PUTO sim.
Mikey faz muito bem em não ter redes sociais. A vida dela estaria um inferno agora, e ela não tem culpa de nada. É só mais um instrumento dessa indústria cruel que vai lhe encher de dinheiro e fama em troca de sua imagem e vitalidade, enquanto isso durar.
Já a Fernandinha será recebida de braços abertos pelo povo mais caloroso do mundo, e sabendo que não tem mais nada a provar. Seguirá feliz e realizada com a própria carreira, sabendo que seus fãs reconhecem seu verdadeiro valor pelo que ela é: uma das maiores artistas no nosso país e com um carisma infinito. E isso vale muito mais do que qualquer careca pelado.
Então, que eles usem seu novo brinquedinho até enjoar. Já a nossa Fernandinha, bom... ela ainda está aqui. Conosco.
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