[Crítica] Wicked: Parte II
Não surpreende que Wicked: Parte I tenha sido um grande sucesso mundial. O premiado cineasta Jon M. Chu já provou por diversas vezes que conhece a fórmula perfeita para traduzir toda a magia dos palcos para as grandes telas.
Junto de sua amiga de longa data e diretora de fotografia, Alice Brooks, ele trabalhou ao longo de vinte anos, em diversos projetos do gênero (Se Ela Dança, Eu Danço 2 e 3, Em um Bairro de Nova York, Jem e as Hologramas).
Agora, possui a difícil missão de entregar uma conclusão digna para uma obra que arrecadou cerca de US$ 756 milhões (R$ 4 bilhões) mundialmente e recebeu 10 indicações ao Oscar, levando duas estatuetas (Melhor Figurino - Paul Tazewell, e Melhor Design de Produção - Nathan Crowley).
Podemos definir o mote de Wicked: Parte II como “contrastes e mudanças”.
Isso fica claro ao sermos apresentados a uma Elphaba (Cynthia Erivo) mais madura, empoderada e segura de suas habilidades mágicas, porém reclusa, perseguida, demonizada, e agora conhecida pelos quatro cantos das terras de Oz como a grande Bruxa Má do Oeste.
De pronto, a trama estabelece o clima que irá manter até seus últimos minutos.
Em contraste com a primeira parte, o filme traz um tom mais sério e soturno, cenas de maior foco em ação, planos de câmera mais dinâmicos e efeitos visuais abrangentes.
O longa mantém seu premiado design de produção, com efeitos práticos e pós edição em CGI, uma mesclagem de técnicas que funciona de forma eficiente e coesa em grande parte, mas parece, ainda, que não conversa com a fotografia apresentada, essa que por sua vez lava suas cores e tenta apagar seu charme por meio de uma iluminação defeituosa, principalmente em cenas noturnas.
Dessa vez Oz é apresentada de forma mais ampla ao espectador. Saindo da Universidade Shiz, fora das fronteiras da Cidade das Esmeraldas, somos levados até lugares mais interessantes do mapa.
Além do arco-íris “vivenciamos”, finalmente, a Estrada de Tijolos Amarelos (ainda em construção), a Munchkinlândia e sua arquitetura fantasiosa revestida por arte nouveau e pitadas de steampunk; as profundas florestas de Oz, e o covil de Elphaba em um dos castelos abandonados da família Tigelaar.
Os cenários são sólidos, mas falham em raras ocasiões, já presentes anteriormente, onde extensões em chroma key eram evidentes e a falta de profundidade ficava clara em alguns ambientes.
Com maior tempo de tela, os animais marcam retorno em Wicked: Parte II, e por sua vez, a animação CGI dos personagens é um show à parte. O longa não repete erros de produções recentes, onde animais antropomórficos são retratados de forma extremamente realista, sem qualquer expressão facial ou corporal.
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| (Foto: Universal Pictures/Divulgação) |
Jon M. Chu tenta manter a obra o mais fiel possível a já vista nos palcos da Broadway, mas fãs mais assíduos do musical percebem com rapidez algumas mudanças.
Com o objetivo de preencher lacunas, explicar contextos, e ganhar um maior peso emocional no enredo – o que o musical acaba deixando de lado por falta de tempo, o diretor adiciona novas interludes, remaneja algumas estruturas, modifica atos inserindo novos personagens e inclui duas novas canções.
No Place Like Home e The Girl in the Bubble, interpretadas por Cynthia Erivo e Ariana Grande, respectivamente, estão presentes para um maior apoio de desenvolvimento de personagem, as humanizando e elucidando sua evolução pessoal desde o início da história, o modo como estão lidando com as consequências de seus atos e relações conturbadas.
Elphaba e sua jornada pelo autoconhecimento, a luta contra a discriminação em Oz, e a causa dos animais silenciados. Glinda - A boa, e seu dilema de menina rica e mimada, vivendo o glamour que a bondade mascarada pode trazer, e finalmente, descobrindo que o mundo não gira em torno de seu pedestal.
Compostas por Stephen Schwartz, premiado compositor americano de teatro, as duas canções integram perfeitamente a trilha do musical, sem muita diferenciação do material original. Embora ótimas novidades, a música interpretada por Erivo soa mais interessante em sua melodia e vocais.
Apesar do esforço do diretor em tentar encaixar situações e deixar as coisas as mais fluídas possíveis, é inegável que algumas cenas pareçam desconexas e perdidas no roteiro, alí só para contextualizar um ponto crucial na trama.
Assim como no musical, personagens secundários da primeira parte dão as caras por menos de cinco minutos, e logo após são esquecidos sem qualquer tentativa de conclusão ou destino. É o caso de Pfannee (Bowen Yang) e Shen Shen (Bronwyn James), que apenas aparecem em duas cenas.
Dorothy (Bethany Weaver), o grande mistério do elenco, surge de forma resumida – até mais que no musical da Broadway, diria. Não que o filme tente esconder a identidade da garotinha do Kansas, a qual aparece apenas em closes estratégicos e que foquem no que interessa para a trama, como sua chegada, os sapatinhos de Nessarose (Marissa Bode), e o encontro com o Maravilhoso Mágico de Oz (Jeff Goldblum). Mas em momento algum dá abertura para um envolvimento maior.
Como mencionado por Jon M. Chu em uma entrevista a revista digital “TheWrap”, com a intenção de não interferir na imagem que o espectador tem da personagem vinda diretamente da obra original que Wicked foi derivado, e focar em Elphaba e Glinda, decidiu por omiti-la: “Ela é um peão em um jogo que não é dela”, declarou o diretor.
Glinda (Ariana Grande-Butera) recebe um aprofundamento necessário – o arco dramático da personagem está longe de ser considerado raso, mas a atuação deixa a desejar em momentos de maior tensão dramática, onde a atriz não consegue transmitir a emoção do personagem ao público e não convence.
Outros personagens como Fiyero (Jonathan Bailey) e Bok (Ethan Slater), ganham maior relevância e peso no enredo, com números musicais de maior impacto. Curiosamente não necessariamente com maior tempo de tela, mas o necessário para usufruírem de todo o aparato de efeitos especiais da pós da produção.
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O longa traz o clímax da História não contada das Bruxas de Oz de forma grandiosa.
Mantém o que musical já faz de forma expandida, preenche lacunas que poderiam ser mal compreendidas, aprofunda o que já havia sido desenvolvido e melhora o que o primeiro ato já entregava.
O musical flui de forma natural. Emociona na medida (mesmo que a atuação superficial de Ariana Grande atrapalhe um pouco em cenas de maior impacto, o que é balanceado pela desenvoltura de Cynthia Erivo).
Apresenta os mesmo problemas em fotografia e montagem, tenta evoluir uma coisa aqui e ali, mas não é o suficiente. Nada que atrapalhe os olhos desavisados, mas tem algo que falta na obra, visualmente falando.
O filme funciona perfeitamente mesmo para aqueles que não conhecem nada da história. Deve agradar a fãs de Wicked, musicais no geral, e curiosos que estão experimentando o universo de Oz.
Não é perfeito, mas chega ao ponto do que se propõe. Em comparação a outros musicais, é um dos melhores traduzidos para as telonas.
20 de Novembro de 2025 - 137 Minutos - Universal Pictures
País: EUA
Gênero: Fantasia/Musical
Direção: Jon M. Chu
Roteiro: Winnie Holzman, Danna Fox, Gregory Maguire
Elenco: Cynthia Erivo, Ariana Grande-Butera, Michelle Yeoh, Jeff Goldblum, Jonathan Bailey, Ethan Slater, Marissa Bode, Colman Domingo, Bowen Yang, Bronwyn James
★★★★☆







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