Morcego original
(publicado originalmente em Reg Thorpe - Fornit Some Fornus)
O primeiro personagem dos comics americanos que tive contato foi o Superman. E, embora a minha HQ preferida de todos os tempos seja Sandman, não sei bem se o Mestre dos Sonhos é o personagem de que mais gosto (ele é trágico demais, talvez muito parecido com quem eu era). Entretanto, entre os personagens do universo de heróis, tanto da Marvel quanto da DC, acredito que o que possui as melhores histórias seja o Batman.
Criado em 1939 por Bob Kane e Bill Finger, o Homem-Morcego foi considerado por alguns veículos de comunicação como o principal personagem de quadrinhos do século XX. Hoje em dia, quase dezessete anos depois do início do meu interesse por quadrinhos de heróis, acho que Batman é o personagem que possui o maior número de histórias realmente boas, de marcar época.
Meu primeiro contato com o personagem antes dos quadrinhos foi com os dois primeiros filmes do herói, Batman (1989) e Batman: O Retorno (1992), clássicos da Sessão da Tarde nos anos noventa. Provavelmente seja por isso que eu não tenho ódio desses filmes como a maioria dos fãs do Homem-Morcego tem. OK, realmente Michael Keaton não tinha o físico necessário para encarnar o herói, mas acho que o cara atuou relativamente bem. Não preciso lembrar que, anos depois, Val Kilmer e George Clooney ajudaram a enterrar a franquia de filmes do personagem, ato que só seria revertido em 2005 com o excelente Batman Begins, do diretor Christopher Nolan.
Nos quadrinhos, conheci o personagem na clássica saga A Queda do Morcego, na qual o vilão Bane, ex-presidiário em um país da América Central usa de uma estratégia genial para derrotar o herói e tomar o controle do submundo de Gotham: pouco a pouco, de uma distância segura, vai levando Batman à exaustão física e mental. A primeira cartada de Bane é libertar todos os criminosos do Asilo Arkham, o que levou Batman a empreender uma caçada sobre-humana para tentar recapturar todos os bandidos. Bane e sua gangue acompanhavam tudo à distância, monitorando o herói a medida em que ficava cada vez mais desgastado. Aqui no Brasil, a origem do vilão foi mostrada em Superpowers #32 (Editora Abril) e os primeiros capítulos de A Queda do Morcego foram publicadas na revista-mix Liga da Justiça e Batman (um título estranho, é verdade. Entretanto, foi a saída que a Abril encontrou para a publicação de histórias tanto da Liga quanto do Morcego).
Em março de 1995, a Abril lançou sua quarta série do Batman, começando logo com a derrota do herói nas mãos de Bane. As últimas páginas são, provavelmente, algumas das mais dramáticas da carreira do herói. Completamente exausto, luta contra o Coringa e o Espantalho nos esgotos de Gotham. Um pouco depois de dar sua surra em ambos, os esgotos são inundados e o Homem-Morcego ainda consegue salvar o prefeito da cidade de morrer afogado.
Quase se arrastando, Batman consegue chegar ao batmóvel e, minutos depois, se encontra na entrada da mansão... para encontrar Alfred caído no chão com um ferimento na cabeça. Bane surge e chama o Morcegão pro pau! Em uma luta que vai até a caverna, Bane, pra não acabar com a agonia e vergonha de Batman, não o mata, e sim, quebra sua espinha em uma das cenas mais dramática dos quadrinhos.
A Queda do Morcego é, provavelmente, uma das sagas mais longas da existência do personagem. O que se segue à derrota de Batman é a tomada do controle do submundo de Gotham por Bane. Como não poderia deixar de ser, depois de parcialmente recuperado, o agora paralítico Bruce Wayne "elege" um substituto para o manto de Batman: Jean Paul Valley, o discípulo da enigmática Ordem de São Dumas. Jean-Paul apareceu pela primeira vez na clássica minissérie A Espada de Azrael.
Contudo, pouco a pouco, Valley se mostrava cada vez mais descontrolado. Mesmo assim, algum tempo depois, o novo Batman (agora com um uniforme totalmente diferente) vai à forra e faz Bane pagar o triplo sobre o que havia feito a Wayne. Valley o espanca a tal ponto de que o vilão passa um bom tempo em estado catatônico. Somente esse fato já mostrava que o novo vigilante era violento demais, que talvez não tivesse sido a melhor escolha de Wayne para tomar o seu lugar... e que talvez ele ainda viesse a passar de todos os limites.
Além do descontrole, Valley passa a ter visões de São Dumas e passa a acreditar que tem uma missão para com a cidade de Gotham, ou, em suas palavras, uma "cruzada". Depois de reassumir Gotham, o novo Batman ainda expulsa Robin da batcaverna.
Paralelamente às "aventuras" do novo Batman em Gotham, Bruce Wayne reúne uma força-tarefa para descobrir o paradeiro do pai de Tim Drake (o Robin) na história Bruce Wayne: A Busca.
Posteriormente, o que todo mundo sabia que iria acontecer realmente acontece: Wayne é curado de sua paralisia (acho que tem alguma coisa a ver com os "poderes mágicos" de sua médica, mas não tenho certeza. Não tenho essas edições) e, depois de algum tempo de treinamento, volta querendo seu lugar de volta. Claaaaaro que a luta entre Wayne e Valley acontece e o Batman original retoma seu posto (óbvio).
Depois dos desdobramentos da saga Zero Hora que mexeram (nem tanto!) com a cronologia de todo o Universo DC, a próxima saga do Batman publicada no Brasil que foi digna de nota foi Contágio (1998), na qual uma epidemia do vírus Ebola assola Gotham City. No melhor estilo do filme Epidemia, Batman, Azrael, Asa Noturna e até mesmo a Mulher-Gato correm contra o tempo para encontrar uma cura... e Robin também é infectado. Pouco depois, Batman descobre que a epidemia foi planejada por Ra's Al Ghul, na também interessante saga O Legado do Demônio.
A próxima desgraça a ocorrer em uma cidade cheia delas foi um terremoto na saga... Terremoto (publicada por aqui em 1999). Não acompanhei essa história, mas sei que ela foi um tipo de prólogo para uma outra muito boa, que começou a ser publicada nos últimos meses do formatinho pela Editora Abril: Terra de Ninguém, que começou nas revistas pequenas e terminou já na lendária revista mensal Batman Premium, em 2000.
Aliás, as últimas edições de Batman pela Abril trouxeram uma fase repleta de boas histórias do personagem. Não apenas isso, mas o mix da publicação estava muito bom também, que trazia as histórias da nova Batgirl, uma ex-mercenária treinada por um inimigo das antigas do Homem-Morcego.
Depois do fim da linha Premium, Batman só voltou a ser publicado em uma curta série de cinco edições pela Abril, na última cartada da editora de salvar a publicação da DC no Brasil: a linha Planeta DC. Depois do cancelamento, o personagem só voltaria a ser publicado em uma série mensal em novembro de 2002, pela Panini. Essa série dura até hoje e já passou das cem edições.
Foi no Batman publicado aqui pela Panini que a saga Silêncio, de autoria dos astros Jeph Loeb, Jim Lee, Scott Williams e Alex Sinclair foi publicada, entre agosto de 2003 e julho de 2004. Nessa história, um novo criminoso de identidade desconhecida manipula vários dos inimigos clássicos do Batman contra o herói. Com participação especial de um certo Homem de Aço, Silêncio tem uma trama muito bem construída e texto e arte de primeira. É a melhor história do Batman em anos. Em 2006, a Panini republicou a saga em um único encadernado.
No meu conceito, no que diz respeito à revista mensal, desde Silêncio não há uma história realmente boa do Homem-Morcego. Cidade Castigada, dos mesmos autores de excelente série 100 Balas foi uma das poucas coisas de qualidade publicadas desde então. A "cereja do bolo" que faltava para que eu parasse quase definitivamente de comprar a série mensal do Batman foi a ridícula idéia da DC Comics de trazer de volta Jason Todd, o segundo Robin, que havia morrido na clássica e irretocável Morte na Família, na segunda metade dos anos oitenta.
Quando disse que o Batman rende boas histórias, não me referi apenas à revista de linha. Os anos oitenta foram particularmente generosos com o Cavaleiro das Trevas, com obras que redefiniram o gênero das histórias em quadrinhos e se tornaram referências pra muita coisa que foi feita posteriormente, inclusive em outras mídias. Dessa época, podem ser citadas as histórias A Piada Mortal, de Alan Moore e Brian Bolland e Ano Um, de Frank Miller e David Mazzucchelli.
Nos anos noventa, por aqui tivemos a boa série Legends of The Dark Knight desmembrada na série Contos de Batman, pela Abril. Dessa série, saíram boas histórias, como as minisséries Estufa e Tao. Também foi nos anos noventa o início dos crossovers entre as duas grandes editoras do mercado americano e Batman participou de alguns deles, inclusive quando o manto do Morcego estava com Jean Paul Valley (Batman e Justiceiro: Lago de Fogo, 1995).
Ainda em 1995, o Cavaleiro das Trevas teve seu segundo encontro com o Juiz Dredd, na interessante e engraçada Vingança em Gotham. Também na década de noventa, Batman ainda se encontrou com vários outros pesos pesados de outras editoras, como o Homem-Aranha (duas vezes), Capitão América, Spawn e Demolidor.
Em 1998, a Mythos Editora publicou o confronto entre Batman e os monstros mais sanguinários do cinema. Batman vs. Aliens foi publicado primeiro em formato de minissérie e, no mesmo ano, em um único encadernado. Mesmo sendo inferior ao ótimo Superman versus Aliens, o encontro entre o Homem-Morcego e os monstrengos rendeu uma boa história. Em 2003, a Panini publicou Batman Versus Aliens 2, dessa vez ambientada em Gotham mas, como era de se esperar, essa história é bem inferior à primeira.
Como na primeira década de 2000 eu meio que me afastei dos quadrinhos de heróis, não tenho muita coisa no que diz respeito à minisséries e edições especiais do Batman desde então, exceto algumas republicações de clássicos. Mesmo assim, dá pra destacar a mini Pretérito Futuro, publicada pela Panini em 2004 e o ótimo encadernado Inimigos Públicos, que traz a saga em que Batman auxilia Superman quando este é declarado fugitivo da justiça pelo então Presidente dos Estados Unidos, Lex Luthor. Essa história faz parte da primeira fase da revista Superman/Batman, que aqui em terras brasileiras durou 56 edições antes de ser cancelada, no ano passado. A saga Inimigos Públicos, aliás, ganhou uma adaptação animada há cerca de dois anos bastante fiel à história original.
Falando em animações, outra série que é bastante elogiada (com razão) estrelada pelo Morcegão é Batman Animated, da primeira metade dos anos noventa. Bastante fiel à fase sombria do personagem pós-Crise nas Infinitas Terras, Batman Animated foi a base de muita coisa que seria produzida no gênero de desenhos de heróis nos anos posteriores, como a série da Liga da Justiça, por exemplo.
Pra quem se interessar em conhecer o Batman dos quadrinhos (afinal, é de onde ele vem) e não apenas o dos excelentes filmes de Christopher Nolan, recomendo a leitura de Batman: Ano Um, A Piada Mortal, Asilo Arkham e A Queda do Morcego. Algumas encontram-se esgotadas em livrarias e lojas virtuais. Qualquer novidade no que diz respeito à republicação de alguma dessas histórias, eu aviso aqui.
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