[Música] The Monkees - Um Legado Incrível
Quem foram The Monkees, e por quê são tão importantes para a música e para a Cultura Pop?
1. Contexto antes dos Monkees
Hoje eu vou contar a história de uma banda que nasceu como um roteiro de TV, mas acabou virando algo que ninguém esperava: uma banda de verdade. E não uma banda qualquer, mas um dos maiores fenômenos da música pop dos anos 60. Eu tô falando dos Monkees. Ou como alguns diziam na época: os ‘Beatles de brinquedo’. Só que, ironicamente, eles acabaram vendendo mais discos que os Beatles e os Rolling Stones juntos em 1967. Quem é de brinquedo agora?
Imagina só… é 1964. Os Beatles pisam nos Estados Unidos e viram um terremoto cultural. A Beatlemania não era só música — era corte de cabelo, roupa, jeito de falar. De repente, tudo tinha que ser jovem, rápido, engraçado, com sotaque britânico. E claro, a televisão americana, que nunca perde uma chance de copiar o que dá certo, pensou:
‘Por que não criar o nosso próprio Beatles… só que de laboratório?’"
Pensa comigo: naquela época, a TV era cheia de sitcoms familiares, casais perfeitos, vizinhos engraçados. Mas nada realmente voltado pros adolescentes. Era como se os jovens fossem invisíveis. Então a ideia dos produtores Bob Rafelson e Bert Schneider foi simples: criar uma série sobre quatro garotos atrapalhados, tentando ser uma banda de rock. Meio comédia pastelão, meio aventura, mas sempre com música. Um Frankenstein televisivo costurado em cima da sombra dos Beatles.
Sim, os Monkees começaram como uma ficção. Mas a ficção, às vezes, é mais poderosa que a realidade. E aqui a gente vai mergulhar fundo: desde os bastidores da série, as comparações inevitáveis com Beatles, Beach Boys, Byrds, passando por músicas que nasceram quase sem querer e viraram clássicos… até chegar nos paralelos com boybands modernas, tipo Backstreet Boys e até K-pop. E claro, não dá pra esquecer a vida solo de cada um deles — incluindo alguns filmes B maravilhosamente ruins que o Micky Dolenz topou fazer depois. Porque aqui no Corte Brutal, a gente não passa pano: a gente mostra o sucesso, mas também o ridículo.
2. Criação da série/Como surgiram – o “plano Beatles”
Pra entender os Monkees, você precisa lembrar o impacto dos Beatles em 1964. A Beatlemania explodiu, todo mundo queria ter seu próprio grupo que vendesse milhões. E na TV americana, produtores pensaram: ‘E se a gente não procurar músicos… mas sim atores, que podem interpretar músicos?’ Ou seja: não importa se os caras tocam ou não. Importa se eles têm carisma de tela. Esse foi o conceito. Uma série de TV sobre uma banda fictícia.
E sabe o que é mais louco? Esse formato não era novidade absoluta. Os Beatles já tinham feito dois filmes de comédia musical: A Hard Day’s Night e Help!. A diferença é que os Beatles eram músicos que viraram atores, enquanto os Monkees eram atores que virariam músicos. É quase como se o roteiro tivesse sido invertido. E, ironicamente, deu certo.
E aí começa a fase mais divertida: os testes de elenco. Centenas de candidatos apareceram. Gente de todo tipo: atores, músicos, malucos, caras que só estavam lá porque leram o anúncio no jornal. O casting era caótico, mas os produtores queriam algo bem específico: quatro tipos diferentes que, juntos, seriam explosivos.
Os testes de elenco dos Monkees viraram lenda. Mais de 400 jovens fizeram audições. O anúncio no jornal pedia ‘quatro malucos, músicos ou não’. E apareceram de tudo: gente tentando imitar Beatles, surfistas estilo Beach Boys, e até uns que mais pareciam figurantes de faroeste. O objetivo era encontrar quatro personalidades diferentes que juntas formassem um grupo atrativo. Algo meio… Beatles meets The Three Stooges.
E os escolhidos foram… Davy Jones, o britânico bonitinho com cara de galã teen. Micky Dolenz, o ex-ator mirim que já tinha rodagem em TV. Michael Nesmith, o cara mais sério, texano, que já compunha músicas próprias. E Peter Tork, o hippie de verdade, músico de barzinho, indicado pelo Stephen Stills. Sim, o Stephen Stills do Crosby, Stills & Nash. O cara foi chamado, não passou, mas disse: ‘Chamem meu amigo, ele é bom’. E chamaram o Peter.
Nenhum dos quatro se conhecia de antes. Cada um tinha sua bagagem, mas nenhum era famoso de verdade. Só Davy Jones tinha um pezinho na Broadway. Ele já tinha feito teatro musical em Londres e até apareceu no Ed Sullivan Show na mesma noite que os Beatles estrearam na TV americana. Ou seja, o cara já tava no lugar certo na hora certa. Uma coincidência de ouro
E é engraçado ver os depoimentos em documentários… o Micky sempre dizia que entrou porque era o único que conseguia ser engraçado sem roteiro. O Nesmith já falava que só foi porque precisava do cheque. O Davy dizia que se via como um astro inevitável. E o Peter… bom, o Peter só queria tocar. Cada um já tinha uma visão diferente desde o início.
3. Primeira fase: o fenômeno televisivo
A série estreia em 1966… e pá!… sucesso imediato.
Era colorida, rápida, cheia de cortes ousados. Misturava humor físico, sátira de espionagem, ficção científica e até faroeste.
Cada episódio tinha números musicais, que eram basicamente… clipes. Isso antes mesmo da MTV existir. Então sim, de certa forma, os Monkees inventaram o videoclipe sem querer.
E claro, veio a avalanche de marketing. Bonecos, figurinhas, lancheiras, revista em quadrinho… qualquer coisa que pudesse ter a cara deles, tinha. Era a Disney antes da Disney dominar tudo. E o público adolescente foi à loucura.
Só que… tinha um problema. O público comprava, mas a crítica não. Pra imprensa séria, os Monkees eram… uma fraude.
4. O dilema da banda de mentira
E aí chegamos ao ponto mais polêmico. Nos primeiros discos, os Monkees não tocavam nada. As músicas eram escritas por compositores de estúdio, gravadas por músicos profissionais.
Eles só botavam a voz — e olhe lá.
Don Kirshner, o produtor, tratava o grupo como marionetes. Chamava compositores de peso, como Neil Diamond e Carole King, e garantia que os hits estivessem prontos. ‘Last Train to Clarksville’, ‘I’m a Believer’… tudo feito na fábrica. O público amava, mas os jornalistas logo perceberam: 'peraí, eles nem são uma banda de verdade!'
E isso começou a incomodar os próprios Monkees. Em entrevistas, o Dolenz dizia: ‘Eu via aquilo como um trabalho de ator. Interpretar um músico era só mais um papel.’ Já o Nesmith odiava. Pra ele, era humilhação. Ele queria gravar suas músicas, mostrar que tinha talento. E o Peter Tork estava do lado dele. Já o Davy Jones… bem, ele estava feliz em ser ídolo teen. Ele gostava dos holofotes, ponto.
E aí vem a parte mais deliciosa dessa história: os produtores queriam apenas uma banda fictícia, mas os Monkees começaram a se rebelar. Eles não queriam só dublar músicas gravadas por músicos de estúdio. Eles queriam tocar. Queriam compor. Queriam ser uma banda de verdade. Michael Nesmith era o mais teimoso nesse ponto — ele dizia em entrevistas: ‘A gente tá vendendo discos como uma banda, então deixem a gente ser uma banda’. Peter Tork também era músico de verdade, tocava piano e baixo. E Micky Dolenz, que começou como ator mirim, se virou na bateria. Era meio desengonçado no começo, mas aprendeu rápido. Resultado: eles viraram uma banda de verdade na marra.
A primeira música de impacto dos Monkees foi Last Train to Clarksville. Escrita por Tommy Boyce e Bobby Hart, que eram basicamente os ‘fornecedores de hits’ da série. Se você ouvir com atenção, dá pra perceber que Last Train to Clarksville é quase um clone estilizado de Paperback Writer dos Beatles. Só que com uma pegada mais folk-rock, no estilo dos Byrds. Ou seja, eles eram uma colagem de influências que já faziam sucesso. Só que o público… amou.
Outra música icônica é I’m a Believer, escrita por Neil Diamond. Olha o nível da coisa: Neil Diamond, que depois viraria um dos maiores artistas dos EUA, estava escrevendo músicas pros Monkees antes de estourar por conta própria. E I’m a Believer foi número 1 por semanas. Não dá pra chamar de ‘banda de mentira’ quando você tem esse tipo de repertório, certo?
Aliás, "I'm a Believer" ainda teve uma "sobrevida" dupla curiosa: nos anos 90 teve uma versão em português, de sucesso, por Lulu Santos, e também teve uma versão modernizada para a saga de SHREK.
5. A revolta interna
Voltando aos anos 60, a coisa estava andando, até que a corda estourou.
Nesmith ficou tão irritado que chegou a confrontar Don Kirshner numa reunião. E a frase entrou pra história: ‘Com esse dinheiro, você pode comprar uma nova gravata… mas não o meu respeito.’ O cara quase partiu pra cima do chefão. E isso virou o ponto de virada.
O resultado foi o álbum Headquarters, em 1967. Pela primeira vez, os quatro tocaram de verdade. Escreveram, tocaram instrumentos, brigaram no estúdio, mas fizeram um disco só deles. E o som mudou: ficou mais folk-rock, mais experimental, mais cru. Foi quando os Monkees deixaram de ser fantoches e começaram a ser uma banda de verdade.
Se os Beatles eram a inspiração óbvia, os Monkees também beberam da fonte dos Beach Boys e dos Byrds. Por exemplo, Pleasant Valley Sunday, escrita por Gerry Goffin e Carole King, tem um estilo muito próximo dos Byrds, com guitarras brilhantes em 12 cordas. Já algumas harmonias vocais dos Monkees lembram diretamente os Beach Boys, só que de uma forma mais pop, menos sofisticada. Enquanto Brian Wilson tava surtando no estúdio criando Pet Sounds, os Monkees estavam gravando hits de 2 minutos e meio. Mas adivinha? Venderam milhões. O mercado não premia necessariamente a genialidade, premia o que gruda na cabeça.
Agora, pensa comigo: os Monkees foram praticamente a primeira boyband mainstream. Só que sem coreografia ensaiada. Se fosse hoje, eles estariam competindo com BTS, EXO, ou sei lá, Stray Kids. A diferença é que, em vez de dança sincronizada, eles tinham episódios de TV com piadas pastelão. Ou seja: onde hoje você teria TikToks coreografados, nos anos 60 você tinha um episódio dos Monkees tropeçando num sofá. Evolução ou involução? Aí depende do seu gosto.
E outra: será que as boybands atuais conseguem dizer que venderam mais que Beatles e Stones juntos em um único ano? Não né? Pois é. O ‘fake’ venceu.
6. O filme Head (1968)
E aí vem um dos capítulos mais loucos dessa história: o filme Head.
Co-escrito por ninguém menos que… Jack Nicholson. Sim, o futuro Coringa, o cara de O Iluminado.
O filme era uma desconstrução total da imagem dos Monkees. Surreal, psicodélico, cheio de críticas sociais, cenas sem sentido, e basicamente dizendo: ‘Nós sabemos que vocês acham que somos falsos… e vamos rir disso na sua cara.’
O resultado? O público adolescente não entendeu nada. O filme foi um fracasso total. Mas anos depois, virou cult. Hoje é visto como uma das coisas mais ousadas que a indústria pop já tentou fazer. Só que na época, foi o começo do fim.
7. O fim da série e a fragmentação
Depois disso, a série foi cancelada. O interesse caiu.
Peter Tork foi o primeiro a sair, cansado da bagunça.
Nesmith tentou seguir carreira solo, fundou uma banda de country rock e até se envolveu na criação de videoclipes anos depois.
Dolenz e Davy ainda tentaram manter a chama acesa, mas era impossível.
O mito dos Monkees estava se desfazendo. Eram vistos como uma moda passageira, um truque de televisão.
8. Reuniões e nostalgia
Mas os Monkees nunca morreram de verdade.
Nos anos 80, a MTV começou a reprisar os episódios. Uma nova geração descobriu a série, e isso reacendeu o interesse.
Eles fizeram turnês nostálgicas, lançaram compilações, e cada vez que voltavam, aparecia uma leva de fãs novos.
Claro, as brigas internas nunca acabaram. Jones e Dolenz eram os mais abertos pra ganhar dinheiro com nostalgia. Nesmith sempre relutava, só aceitava voltar de vez em quando. E o Peter… bom, ele era aquele hippie que topava, mas reclamava.
A morte de Davy Jones em 2012 foi um choque. Mas mesmo assim, os outros continuaram. Em 2016, lançaram o álbum Good Times!, com músicas escritas por gente moderna, como Rivers Cuomo, do Weezer, e Noel Gallagher. E sabe o que é engraçado? O disco foi elogiado! Parecia que os Monkees tinham encontrado de novo sua razão de existir.
E antes de morrer em 2021, Nesmith ainda fez uma turnê com Dolenz. Foi a despedida. Uma espécie de 'final feliz' pro cara que sempre brigou contra o sistema, mas no fim entendeu que o legado era maior do que ele mesmo.
9. Carreiras Solo - cada um por si
Michael Nesmith:
Depois dos Monkees, o Nesmith seguiu carreira country-rock. Ele basicamente antecipou o som que depois seria popularizado pelos Eagles. Gravou discos respeitados, fez turnês, e ainda ficou milionário porque a mãe dele inventou… a fita corretiva Liquid Paper. Sim, aquele branquinho de apagar caneta. Às vezes, o rock não paga as contas, mas a papelaria paga.
Peter Tork:
O Tork foi o mais hippie do grupo. Tocava vários instrumentos, participou de jams com grandes músicos dos anos 60, mas nunca alcançou um sucesso solo muito grande. Ele acabou virando uma espécie de ícone cult, sempre lembrado como ‘o músico sério preso numa banda fake’.
Davy Jones:
O Davy Jones seguiu carreira de cantor romântico, aparecendo em programas de TV e até em Brady Bunch. Ele virou o Monkee mais associado à imagem de galã teen. Até em Os Simpsons ele apareceu, como piada, cantando ‘Girl’. Davy era o coração romântico da banda.
Micky Dolenz:
O Micky foi o que mais se manteve ativo no entretenimento. Ele virou dublador, fez direção de TV e cinema, e estrelou alguns filmes B hilários, tipo Night of the Strangler e Teen Alien. Sabe aquele tipo de filme que você aluga na locadora achando que vai ser sério e descobre que é quase uma paródia involuntária? Pois é, Micky Dolenz tava lá.
10. O legado cultural
E o que ficou dos Monkees? Eles provaram que uma banda fabricada podia se tornar real. Inventaram o videoclipe sem querer. Influenciaram a linguagem pop da TV, da música, da moda. E abriram um debate que até hoje existe: o que é autêntico em arte?
Se você começa falso, mas depois encontra sua voz… você ainda é falso? Ou você se torna verdadeiro pelo processo?
No fim das contas, os Monkees provam uma coisa: às vezes, a mentira dá mais certo que a verdade. Eles nasceram como uma invenção, mas a insistência deles em se tornarem músicos reais transformou o projeto numa banda histórica. O paralelo com boybands modernas é inevitável: será que algum grupo de K-pop vai conseguir quebrar esse estigma e virar algo além de um produto? Talvez sim, talvez não. Mas os Monkees já mostraram que é possível.
E eu vou ser sincero: entre ver mais um reality de K-pop e reassistir a série dos Monkees com aqueles cortes rápidos e piadas nonsense, eu fico com os Monkees. Porque no fundo, a vida já é tão caótica que rir de quatro caras fingindo ser músicos é quase… reconfortante.
E é isso que torna os Monkees tão fascinantes.
Eles são uma das bandas mais 'Corte Brutal' da história. Porque nasceram como produto, mas acabaram virando arte. E até hoje dividem opiniões, mas nunca deixam de ser lembrados com carinho.
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