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Primeiro herói

(publicado originalmente em Reg Thorpe - Fornit Some Fornus)

Como já disse no post sobre a clássica HQ A Morte do Super-Homem, o Homem de Aço foi o personagem que me trouxe para o mundo dos quadrinhos. Hoje em dia, sequer é meu personagem favorito, mas durante muito tempo as histórias do Superman foram, digamos, o "carro-chefe" da minha coleção. Ainda hoje, mais de quatro anos depois que parei de comprar o título mensal, as revistas do azulão ainda são maioria no que eu tenho aqui em casa.
Muita gente não sabe, mas o Superman foi o personagem que deu início à chamada Era de Ouro dos quadrinhos. Foi depois do surgimento dele, em 1938, pelas mãos dos amigos-estudantes-nerds Jerry Siegel e Joe Shuster, que a maioria dos super-heróis conhecidos hoje foram criados. Ironicamente, o primeiro personagem chamado Superman criado pelos dois, quatro anos antes e recusado por muitos editores, era um vilão.
Quando eu era moleque, antes de conhecer as HQ's do herói, sempre que ouvia falar do personagem, me vinha à mente o Superman dos filmes do Christopher Reeve. Nem me lembro direito se eu fazia idéia de que se tratava de um personagem originalmente vindo dos quadrinhos. Assim como muita gente, me lembrava de Reeve e da trilha sonora emblemática de John Williams.
Depois que li a história da morte do herói nas mãos do monstro Apocalypse (Doomsday, no original), mesmo naquela época antes de saber como as coisas funcionam nos quadrinhos americanos, eu já sabia que iriam trazê-lo de volta. De fato isso aconteceu e, por acaso eu passei em frente a uma banca de jornais quando O Retorno do Super-Homem (a editora Abril o chamava de Super-Homem, não de Superman) havia sido publicada. Foi a primeira HQ do gênero que eu comprei. 
O Retorno mostra a criminalidade em alta em Metrópolis, depois da morte do herói. Lois Lane ainda não aceita que o noivo tenha morrido e as coisas andam difíceis para a cidade. Depois de algumas semanas, surgem boatos de que quatro vigilantes com características parecidas com as de Superman estão agindo na metrópole. Um garoto que se diz ser clone do herói, um ciborgue meio homem e meio máquina, um homem usando um visor e um trajando uma armadura de aço. No final das contas, um desses seres acaba se revelando um antigo vilão e é responsável pela destruição de Coast City, a cidade natal de Hal Jordan, o Lanterna Verde (posteriormente esse fato levaria o herói esmeralda à loucura, mas isso é outra história). Pra resolver tudo, o Superman verdadeiro volta (na verdade, seu corpo foi levado para a câmara-matriz da Fortaleza da Solidão e foi restaurado, já que seu organismo funciona como uma espécie de bateria solar e possuía energia armazenada) trajando aquele uniforme kryptoniano preto com o símbolo do "S" prateado, totalmente estiloso e, com a ajuda dos outros três Supermen, resolve a parada.
Além de ter retornado mais poderoso do que estava antes, o herói ainda volta com um novo visual: cabelos compridos, fase que duraria até a edição em que ele finalmente se casa com Lois Lane. Mas vamos chegar lá.
Na revista mensal, publicada na época pela Abril, Superman passou por maus bocados logo depois que retornou. Teve que encarar o matador com tendências (???) nazistas Sanguinário, ficou algumas semanas perdido no espaço e passou um período "doente": seu corpo passou a acumular um excesso de energia solar e o herói teve que se afastar um tempo para não ferir acidentalmente pessoas inocentes. Teve que fazer um tratamento a base de sanguessugas... digo, teve que fazer um tratamento com a ajuda do vilão Parasita, que no final das contas fugiu da prisão usando a energia excessiva que tirou do herói.
Pouco mais de um ano depois da publicação da morte do Superman pela Abril, chegava a vez da revanche: Apocalypse também voltou dos mortos e Superman se viu obrigado a enfrentar seus medos e ir atrás do monstro. Mesmo hoje, mais de quinze anos depois, essa ainda é uma das minhas histórias favoritas. Além de revelar a origem de Apocalypse, ainda mostra um Superman inseguro, com medo do único ser que o derrotou. Ambientada em sua maior parte no espaço, a história Superman Versus Apocalypse: A Revanche foi escrita e desenhada pelo mesmo artista que "matou" o herói meses antes: Dan Jurgens. Brett Breeding fez a arte-final.
Depois dos desdobramentos da maxi-saga Zero Hora, que afetou todo o Universo DC, Superman teve que enfrentar um problema muito mais pessoal: a descoberta de sua identidade secreta por um antigo colega de escola e rival na adolescência e se vê obrigado a abandonar sua identidade civil na boa história A Morte de Clark Kent.
Nessa época, a Abril publicou o excelente crossover (encontro de personagens de editoras ou universos distintos) Superman versus Aliens, em que o herói enfrenta os monstros que ficaram famosos no filme de Ridley Scott. Se você estiver se perguntando como um personagem com os superpoderes do Homem de Aço poderia sofrer alguma dificuldade com os Aliens, o roteirista (ele de novo!) Dan Jurgens resolveu essa questão com um roteiro bem inteligente: uma nave cai na Terra com um pedido de socorro vindo de algum lugar no espaço. Ao perceber que a língua transmitida pela mensagem é a mesma de seu planeta natal (destruído há muito tempo), Superman decide ir investigar, com esperanças de descobrir que não é mais o último kryptoniano vivo. Entretanto, vai perdendo gradativamentemonstrengos à moda antiga: na bala! Só faltou a Sigourney Weaver pra dar uma ajuda ao herói.
Na mesma época, o Homem de Aço teve um crossover com o "herói-estatueta-do-Oscar" Surfista Preateado, da Marvel, um pouco antes (ou depois) de representar a DC na batalha contra sua arquirrival no mercado americano no esperado encontro DC Versus Marvel. Na história, escrita por Peter David e Dan Jurgens, Superman enfrentou o Hulk.
Mark Waid e Alex Ross trouxeram um sombrio Superman em Reino do Amanhã (Kingdom Come), o clássico que conta o (possível) futuro do Universo DC. No início da história, o Homem de Aço se aposentou, descontente com os rumos que o mundo tomou e entristecido com a morte de Lois Lane nas mãos do Coringa. Reino do Amanhã foi relançado em um encadernado pela Panini, cerca de sete anos atrás.
Na revista mensal, Superman foi levado a uma espécie de  julgamento intergalático pela destruição de Krypton e terminou condenado à morte. A boa história O Julgamento do Superman teve desde brigas de presidiários a fuga da cadeia. Bem legal.
Ainda nessa época, a Abril lançou Os Melhores do Mundo, a nova revista com a Liga da Justiça em sua formação mais poderosa de todos os tempos: Superman, Batman, Mulher-Maravilha, Flash, Caçador de Marte, Lanterna-Verde (Kyle Rayner) e Aquaman. Logo nos primeiros números, na saga A Noite Final, na qual uma criatura desconhecida começa a destruir o Sol do nosso sistema solar, Superman novamente perde seus poderes.
E foi exatamente com um Clark Kent mais humano do que nunca que foi lançada por aqui o esperado O Casamento do Super-Homem. Nada de supervilões ou batalhas espaciais. A história é centrada nos preparativos para o casamento: a despedida de solteiro de Kent (com direito a briga em bar), a escolha do vestido de Lois, essas coisas. Interessante ver uma história inteira do Super sem ver o Super.
No mesmo ano, a Abril lançou a minissérie em quatro partes Super-Homem: As Quatro Estações, que conta o início da carreira do herói visto de quatro pontos de vista diferentes. Uma das poucas HQ's do herói que beira a poesia. Jeph Loeb roteirizou e Tim Sale fez a arte. Também foi relançada recentemente pela Panini.
No segundo semestre de 1999 também foi a vez do terceiro round (no Brasil) de Superman contra o monstro que o matou, seis anos antes. A Abril lançou Superman: O Retorno de Apocalypse, novamente pelas mãos de Dan Jurgens. Na história, o monstro retorna dessa vez munido com uma arma poderosíssima: inteligência. Jurgens mesclou passado e presente, mostrando cenas de flashback da adolescência de Clark Kent no Kansas e sua nova adversidade. Jurgens também dá ao personagem a difícil escolha de lutar contra o monstro e salvar a vida de uma única criança. Muito boa a história, embora o desfecho tenha deixado um pouco a desejar.
Com as vendas da revista do personagem em baixa nos EUA, a DC Comics, deu carta branca aos roteiristas para mudarem o visual e os poderes do herói. Pouco depois do Casamento, o Superman deixou de ser o Homem de Aço para ser... o homem elétrico (????). Foi, sem sombra de dúvida, uma das fases mais esquisitas e constrangedoras em todos os 73 anos do personagem.
O ano 2000 marcou muita coisa no mercado de quadrinhos no Brasil. As vendas estavam em crise já há algum tempo e aquele ano seria o último em que a editora Abril lançaria suas HQ's de heróis no clássico formatinho (13,5 x 20,5 cm). Também foram lançadas bastante edições especiais. Nesse ano, Superman teve três crossovers com personagens de outras editoras: Savage Dragon (Image), O Incrível Hulk (Marvel) e uma excelente aventura espacial junto com O Quarteto Fantástico (com direito a transformação do Homem de Aço em uma versão kryptoniana do Surfista Prateado). Em agosto, em uma tentativa de salvar a publicação das HQ's de heróis no Brasil, a editora Abril cancelou todas as suas revistas mensais e lançou as edições Premium (parece tipo de cerveja, não parece?).
Superman Premium foi lançada junto com a elogiada fase do roteirista Jeph Loeb. De fato, os textos parecem ter ganho mais importância nessa época. Tanto que o escritor às vezes usava mais recordatórios do que os típicos balões de diálogos em suas histórias.
O acabamento das edições Premium também foi uma coisa à parte. Capa cartonada, lombada quadrada, revistas lacradas. Em algumas propagandas, a Abril dizia serem as melhores revistas em quadrinhos do mundo. No caso de revistas mensais, não duvido que fossem. Entretanto, para os padrões da época, não era todo mundo que ficava satisfeito em desembolsar dez paus por um gibi (hoje em dia, é um preço médio de revista mensal, mas com uma qualidade infinitamente inferior). Muitos leitores reclamaram.
Em meio a crises e lançamentos, 2001 foi um ano relativamente parado. Naquele ano, Superman enfrentou outro monstro clássico dos filmes da Fox. Se antes o Homem de Aço teve que viajar no espaço para enfrentar os Aliens, agora a batalha seria aqui na Terra mesmo, em uma floresta tropical, ambiente favorito do Predador. Superman versus Predador foi uma história regular e, apesar de ter um duelo interessante, não chegou aos pés das inúmeras vezes em que o Batman enfrentou o alienígena mais ugly motherfucker da história do cinema. Ainda naquele ano, a Abril lançou a série de revistas que imaginava o Universo DC se este tivesse sido inventado pelo criador dos grandes heróis da Marvel: Stan Lee.
No início de 2002, em um último esforço para salvar os heróis americanos no Brasil, a Abril cancelou a série Premium e relançou os formatinhos (???). Entretanto, o Universo DC passava pela horrível e confusa saga Mundos em Guerra (de autoria do bom escritor Jeph Loeb) e a fase durou apenas cinco edições. Depois de dezoito anos publicando Marvel e DC no Brasil, a editora Abril cancelou definitivamente suas HQ's de heróis.
Entre publicações de editoras menores, O Homem de Aço voltaria a ter sua revista mensal relançada apenas em novembro de 2002, quando a Panini assumiu o Universo DC no Brasil. A revista começou nos desdobramentos de Mundos em Guerra e o herói mostrava seu luto pelas perdas na batalha usando um fundo preto em seu "S". Pra mim, esse foi meio que o começo do fim do meu interesse pelas HQ's mensais do gênero. Depois da fase de Loeb, as histórias começaram a ficar, digamos, grandiosas demais, confusas demais. Pô, Loeb trouxe Krypto, o Supercão de volta! Aí não dá, né?!
Em 2003, foi lançada a fraquinha-mas-interessante minissérie Dia do Juízo Final, comemorando dez anos da agora clássica A Morte do Superman. A Mythos Editora (uma espécie de parceira/sócia/sei-lá-o-que da Panini) lançou algumas edições especiais de fora da cronologia das revistas mensais do herói, mas nada digno de grande nota.
Em Entre a Foice e o Martelo (a qual eu não tenho), temos a história do que aconteceria se o foguete que trouxe o pequeno Kal-El à Terra tivesse pousado na antiga União Soviética e não nos Estados Unidos. Na boa minissérie O Legado das Estrelas, o roteirista Mark Waid atualiza (de novo!) a origem do Superman. Ambas as publicações são de 2004.
Superman & Batman, sucesso de vendas nos Estados unidos foi lançada em julho de 2005 no Brasil. Começou muito bem com a história Inimigos Públicos, na qual Lex Luthor, então presidente dos Estados Unidos, oferece uma recompensa de um bilhão de dólares pela captura do Homem de Aço. Luthor pôs a culpa no herói pelo fato de um grande meteoro vindo de Krypton estar em rota de colisão com a Terra. A HQ teve uma ótima adaptação para desenho animado, disponível em DVD (ainda não tenho o meu! GRRRRR!). Depois, Loeb trouxe a Supergirl clássica de volta e voltou à nerdice exagerada. A partir do absurdo terceiro arco de histórias, no qual ambos os heróis se auto proclamam reis do mundo, eu deixei de acompanhar a revista. Foi mais o menos nessa época que as histórias começaram a ficar bagunçadas demais. As muitas viagens no tempo, mundos paralelos e cronologia esquisita presente nas HQ's dos anos sessenta estavam de volta e eu não acompanhei o ritmo. Além do mais, meu gosto por quadrinhos começou a mudar. Em 2005, comecei a comprar os f*d@sticos encadernados de Sandman pela editora Conrad e isso me levou a preferir as edições especias de clássicos, como Watchmen, por exemplo.
De 2006 até os dias atuais, dá pra contar nos dedos as edições do Homem de Aço que eu comprei. Dessas, destaca-se a edição encadernada Superman: O Homem de Aço (Mythos), que republica a origem do Superman pelas mãos do escritor John Byrne. Gosto muito dessa versão, talvez por bater com a fase em que eu comecei a acompanhar o personagem ou simplesmente por ser parecida com o filme. Mas o meu palpite sobre a razão de gostar dessa história mais do que as outras é de que se trata de uma história bem simples. Às vezes, isso basta, não precisa ficar inventando demais. Foram essas razões (não gostar muito de histórias complicadas, com MUITA ficção científica) que me fizeram não curtir muito a premiada minissérie All-Star Superman (Grandes Astros: Superman, por aqui), apesar de gostar de histórias fechadas fora da cronologia das revistas mensais. Grant Morrisson é um excelente roteirista de HQ's (a fase dele com a Liga da Justiça foi muito boa), mas em All-Star ele viajou demais. E a mídia especializada e os fãs mais fiéis do personagem adoraram. Eu não gostei, talvez por estar passando por essa fase de transição no que se refere à gosto por HQ's. Mesmo assim, tenho a minissérie completa, a última que comprei até agora.
Em 2010, a Panini relançou, com um acabamento caprichado (e preço equivalente, diga-se), A Morte do Superman em dois volumes. A revista mensal, iniciada pela editora em 2002, completou 100 edições recentemente. E, apesar do filme de 2006 ter sido bem fraquinho, a DC/Warner promete um novo longa-metragem para os próximos três anos.
De 1938 até os dias de hoje, o personagem passou por diversas modificações. Mudou de uniforme, poderes. Até mesmo alguns valores. Tem uma série de televisão de sucesso que atualizou a sua origem.
Como eu disse antes, não acompanho mais as HQ's do Superman, exceto por uma ou outra edição especial ou republicação de história clássica (desde que seja BOA!). Mas ele ajudou bastante a me tornar o quase-nerd que sou hoje...

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