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Pulps

(publicado originalmente em Reg Thorpe - Fornit Some Fornus)


Um dos meus diretores de cinema favoritos é Quentin Tarantino. São várias as razões, mas é provável que a principal delas seja o fato de que Tarantino simplesmente faz seus filmes da maneira que gosta, não ligando muito (aparentemente) se vai ser aclamado pela crítica ou não. O sujeito recheia seus longas de referências à cultura pop, filmes e programas preferidos da juventude e, ao que parece, não tem a pretensão nenhuma de fazer obras-primas cabeçudas (parafraseando meu amigo Diego) e artísticas ao extremo. Nenhum dos filmes do Tarantino que vi até hoje deve ser levado muito a sério... e o charme está exatamente aí.

O primeiro filme do cara que vi na vida é, provavelmente o seu melhor - embora às vezes fique difícil escolher entre este, Kill Bill e Bastardos Inglórios. Conheci seu Pulp Fiction (1994) em uma noite de sábado, no SBT, há muitos anos atrás e, instantaneamente, se transformou em um dos meus filmes favoritos de toda a vida.
O termo pulp fiction se refere a publicações com papel de baixa qualidade bastante populares sobretudo nos Estados Unidos na primeira metade do século passado. Essas revistas continham, em sua maioria, histórias de ficção científica e mistério de qualidade duvidosa que viriam (é claro!) a dar origem aos quadrinhos de heróis a partir da década de 1930.
Difícil definir um gênero para Pulp Fiction. Não é exatamente um filme de ação, assim como não se limita a ser um filme de mafiosos (não que isso seja um gênero, mas você entendeu o meu ponto de vista). O lado pulp fiction de Pulp Fiction provavelmente é sintetizado pelas diversas situações absurdas presentes nos pequenos contos de gângsteres que se entrelaçam (os contos, não os gângsteres), embora nenhuma dessas situações possa ser rotulada de irreal. Surreal, talvez, mas não irreal.
Uma das características tarantinescas presentes nesse filme é a cronologia fora de ordem, aspecto presente desde seu filme de estréia, Cães de Aluguel, de dois anos antes. Em uma espécie de prólogo antes dos créditos iniciais, vemos o casal Pumpkin e Honey Bunny planejando o assalto a uma lanchonete. A cena termina com a música-tema Misirlou, de Dick Dale. Aliás, as trilhas sonoras dos filmes de Tarantino também são um caso à parte, mas devo falar disso em um próximo post... ou talvez não. No caso de Pulp Fiction, ainda fazem parte da trilha Urge Overkill, Kool and The Gang e Al Green.
Terminados os créditos iniciais, temos outra cena com marca registrada de Tarantino: os diálogos legais-mas-irrelevantes. Os capangas Jules e Vincent conversam no carro sobre as diferenças entre o cotidiano entre os Estados Unidos e a Europa - simbolizado pelo Royale With Cheese e pela batata frita com maionese. Em seguida, no que eu chamo de cena dos Hambúrgueres e Leões-de-Chácara (essa sim eu vou postar!), ambos fazem um acerto de contas para seu chefe, Marcellus Wallace. Basicamente, esse é o prólogo para várias pequenas histórias que se unem em uma coisa só, que vai desde Vincent levando a esposa do chefe para jantar (a pedido de Marcellus, é claro) desde o "dia mais estranho da vida de Butch", o boxeador que deu um golpe naqueles que lhe pagaram para entregar uma luta.
O que faz com que Pulp Fiction seja diferente dos demais filmes de gângsteres é, entre muitas outras coisas, o fato de que esses pequenos contos sejam recheados de situações bizarras... com destaque para a cena em que Marcellus é... bom, não quero estragar a surpresa para quem ainda não viu o filme.
Pulp Fiction concorreu a sete Oscar, mas só levou o de Melhor Roteiro Original (para Tarantino e Roger Avary). Embora ache que a Academia nunca fosse premiá-lo como Melhor Filme por casa daquela coisa de "não ser filme para ser levado a sério" de que falei, na minha opinião até merecia vencer nessa categoria... se não houvesse concorrido com Um Sonho de Liberdade (outro dos meus favoritos) e com Forrest Gump, que acabou ganhando a estatueta.
Pulp Fiction (ou Tarantino) também foi responsável por trazer John Travolta de volta da obscuridade e dos filmes ruins. Travolta talvez ainda carregasse a imagem do cantor/dançarino de Grease e Os Embalos e Sábado À Noite, e Pulp Fiction parece ter dado novo fôlego à carreira do ator. Também participam do filme Samuel L. Jackson (que quase rouba a cena), Tim Roth e Harvey Keitel, que haviam trabalhado com Quentin em Cães de Aluguel, Uma Thurman (que, anos depois, seria a protagonista da quase-franquia Kill Bill) e Bruce Willis.
Para se ter uma idéia de como Pulp Fiction é respeitado, ele ocupa atualmente a quinta posição na lista dos 250 melhores filmes de todos os tempos, do site The Internet Movie Database.

Merecidíssimo.

Pulp Fiction - trailer
 

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