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[Crônica] O Sentido da Vida segundo a comédia e o terror ao longo dos tempos!

Vamos embarcar numa análise filosófica do sentido da vida, utilizando como prisma os filmes de comédia e terror de 1910 até 2025, temperada com humor negro e atravessando épocas e estilos — de Chaplin a Premonição, de Bruce Lee a Leslie Nielsen.


A Vida é Uma Piada Trágica (Com Chaplin e o Horror Mudo)

Começamos pelos anos 1910-1930, onde Charlie Chaplin fez do sofrimento um espetáculo cômico — não porque a dor seja engraçada, mas porque, quando a vida insiste em te chutar, talvez o único gesto de dignidade possível seja levantar-se e tropeçar com estilo.

Em Tempos Modernos (1936), Chaplin é engolido literalmente por uma engrenagem, sendo cuspido de volta como uma peça inadequada para a máquina do sistema. A filosofia implícita: o ser humano, reduzido a sua função, perde a identidade — e, no fundo, isso é hilário e trágico ao mesmo tempo. Já nos curtas de horror mudo da mesma época, como The Haunted House (1921), Buster Keaton corre de fantasmas falsos como se fugisse do próprio sentido da existência — e talvez estivesse mesmo.

A comédia e o terror mudo revelam algo essencial: a vida é absurda e não há diálogo possível com o destino — só gestos exagerados, caretas e correrias.

O Heroísmo Como Piada Existencial (Bruce Lee & a Comédia Física dos Anos 60-70)

Bruce Lee, nos anos 60 e 70, entra como figura trágico-heróica num mundo que insiste em subestimar o espírito. Em O Voo do Dragão (1972), ele derrota Chuck Norris num Coliseu vazio — como se dissesse que, mesmo na glória da luta, o público do sentido da vida já foi embora.

Enquanto isso, Leslie Nielsen estreia nos filmes sérios antes de virar o mestre do nonsense. Em O Planeta Proibido (1956), a ameaça é o subconsciente — o “monstro do id” — como se a vida fosse, essencialmente, um duelo com nossos próprios impulsos. Já nos anos 80, Nielsen assume o caos absoluto com Corra que a Polícia Vem Aí (1988), onde o mundo é tão ilógico que só resta rir. É quase o mesmo diagnóstico existencialista de Sartre, mas com piadas escatológicas.

Lição filosófica: O herói moderno — seja lutador ou detetive trapalhão — tenta impor lógica num mundo essencialmente cômico ou aterrador. O fracasso é inevitável, e justamente por isso, glorioso.

A Morte como Roteirista Fracassada (Premonição e o Horror Adolescente dos anos 2000)

Nos anos 2000, entramos no território onde a morte tem uma agenda — como em Premonição (2000). O sentido da vida aqui não é construído, mas adiado. Você pode escapar do acidente de avião, mas morrer engasgado com um pedaço de frango enquanto assiste TV — isso se o micro-ondas não explodir primeiro. A mensagem é clara: a morte tem criatividade, mas nenhum senso de timing.

Essa “morte engenheira” contrasta com o horror dos anos 80, como Sexta-feira 13, onde o assassino é quase uma força da natureza: Jason mata porque sim, porque está ali, como uma quarta-feira chuvosa. Já a Morte de Premonição mata como se fosse estagiária de cinema experimental, usando escadas, cortadores de grama e linhas de pesca.

Aqui, o terror assume um papel filosófico irônico: Você é só um boneco numa Rube Goldberg de desgraça, e o único livre-arbítrio que você tem é escolher qual playlist tocar antes de morrer.

Comédia Meta e o Vazio Existencial do Cinema Pós-Moderno (2020–2025)

Filmes recentes como Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo (2022) trouxeram uma nova camada à busca do sentido: e se o sentido não existir — e tudo bem?

A personagem Evelyn é confrontada com versões infinitas de si mesma, inclusive uma em que ela é... um pedregulho. A resposta emocional mais honesta do filme acontece quando duas pedras conversam silenciosamente com legendas: “Nada importa”. Mas isso não é um lamento — é libertador.

Outros filmes de terror como M3GAN (2023) e Fale Comigo (2022) abordam o tema da tecnologia e da comunicação com os mortos, como se a vida só ganhasse sentido ao cruzar com o que não compreendemos. O medo aqui é de sermos substituídos ou ignorados — seja por bonecas robóticas ou por espíritos desinteressados.

Nessa era, o sentido da vida virou um aplicativo — mas ninguém leu os termos de uso.

Montagem Final: A Filosofia do Gag, do Sustão e do Silêncio

Unindo todos esses estilos e épocas, chegamos a algumas possíveis conclusões sobre o sentido da vida segundo o cinema de comédia e terror:

1. A vida é uma piada sem punchline.

  • Chaplin tropeça eternamente.

  • Leslie Nielsen acha que está num drama, mas é a piada.

  • Premonição mata o cara antes do clímax.

2. O sentido da vida talvez seja resistir ao roteiro.

  • Bruce Lee não aceita perder, mesmo sem plateia.

  • As Final Girls sobrevivem porque desobedecem as regras.

  • Evelyn, em Tudo em Todo Lugar..., aprende a amar o caos.

3. A morte é só mais um personagem — meio amadora, diga-se de passagem.

  • Em Todo Mundo em Pânico, ela tropeça mais que os vivos.

  • Em Beetlejuice (1988), ela faz fila de espera no além.

  • Em Destino Final, ela tem mais estilo que lógica.

4. Se a vida não tem sentido, invente um com trilha sonora.

  • A dança de Chaplin e a música de A Vida é Bela (1997) são formas de dizer "ainda não acabou".

  • A luta final em Operação Dragão é uma coreografia filosófica.

  • Até nos piores filmes B, alguém grita “CORREEEEE!” — o chamado universal para continuar existindo.

Conclusão:

No fundo, a vida, segundo o cinema de comédia e terror, não precisa de sentido — só de ritmo, timing e uma boa câmera na mão.

A existência é um looping entre sustos e gargalhadas, onde o riso e o medo são duas reações ao mesmo mistério: por que estamos aqui, e o que acontece depois do fade-out?

Enquanto a resposta não vem, melhor rir, gritar, tropeçar e improvisar. Como disse um personagem que provavelmente já morreu num filme qualquer:

“A vida é curta demais pra levar a sério… mas longa o bastante pra fazer você se borrar de medo enquanto ri.”


Então, com ou sem sentido, vamos viver? 

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